Ainda que dure apenas algumas horas, a decisão judicial que suspendeu a posse de Cristiane Brasil no Ministério do Trabalho é um retrato do caos no primeiro escalão do presidente Michel Temer. A Advocacia-Geral da União decidiu recorrer da decisão do juiz Leonardo da Costa Couceiro e é provável que obtenha sucesso, mas a posse, se ocorrer nesta terça-feira (9), às 15h, como previsto, será melancólica.Escolhida por ser filha de Roberto Jefferson, o chefão do PTB, Cristiane corre o risco de ganhar o apelido de viúva Porcina, “a que foi sem nunca ter sido”, personagem inesquecível de Dias Gomes no folhetim Roque Santeiro.
Cristiane começou a cair logo após a indicação, quando a imprensa noticiou que ela tinha sido condenada a pagar R$ 60 mil em uma ação trabalhista movida por um motorista que trabalhou para a família sem carteira assinada. Ministra do Trabalho condenada por não cumprir a legislação trabalhista era um péssimo começo. Mas não ficou só nisso: processada por outro ex-motorista, Cristiane Brasil fez um acordo para pagar R$ 14 mil em 10 suaves prestações. Não era tudo: o jornal O Globo descobriu que quem paga a dívida com o motorista é a assessora Vera Lúcia Gorgulho Chaves de Azevedo, que trabalha no gabinete da deputada, com salário de R$ 10,8 mil líquidos. Cristiane se defendeu dizendo que reembolsava a funcionária, chefe de seu escritório político no Rio, mas não apresentou provas. Em nota oficial, sua assessoria alegou que “as movimentações bancárias da ministra Cristiane Brasil são de cunho privado”.
Vendo o caldo engrossar, a quase ministra ligou para o presidente Michel Temer para certificar-se de que a nomeação estava mantida. Temer disse que sim. Pediu para antecipar a posse para esta segunda-feira (8). Temer disse que não.
Caso consiga assumir, que força terá Cristiane para negociar com o Congresso a rejeição das mil emendas que desfiguram a recém-aprovada reforma trabalhista? É grande o risco de a ministra virar uma figura decorativa. Embora seu pai tenha dito que ela ficará até o final do ano, no próprio PTB há colegas convencidos de que Cristiane deixará o cargo até o início de abril, para poder concorrer à reeleição.