O desfile de personagens caricatos somado à inconsistência dos discursos torna os programas dos partidos na TV uma mistura de irrelevância com inconveniência. Nenhum eleitor dá muita importância para os nanicos que aparecem prometendo mundos e fundos, implorando por filiados ou oferecendo candidaturas, mas quando o horário é o do partido que está no poder ou dos que têm perspectiva de chegar lá é importante prestar atenção para tentar extrair dos clichês alguma lógica. Não é diferente com as inserções do PMDB, com participação especial do presidente Michel Temer e o tom de que foi produzido em um mundo paralelo.
Na fantasia do programa partidário, o PMDB é uma vítima do malvado Rodrigo Janot, que quer destruir as conquistas do governo que está colocando o Brasil nos trilhos. Na vida real contada nos telejornais, o PMDB é o partido que governa o Estado do Rio de Janeiro, atolado em uma crise sem precedentes e cercado de denúncias de corrupção por todos os lados. Entre seus próceres estão figuras como o ex-governador Sérgio Cabral (preso), o governador Luiz Fernando Pezão (investigado), o presidente da Assembleia, Jorge Picciani (se entregou nesta quarta-feira à PF), seu filho Felipe Picciani (preso), os deputados Paulo Melo e Edson Albertassi (os dois também se entregaram à PF) e o ex-prefeito Eduardo Paes (citado em delações comprometedoras).
O material conhecido com antecedência ataca a Procuradoria-Geral da República, que denunciou Temer e os ministros Eliseu Padilha e Moreira Franco. Em uma espécie de vacina contra futuras denúncias, o PMDB avisa que “os ataques” contra o governo devem continuar.
No mundo do marketing, o governo Temer tirou o Brasil do vermelho. Do déficit de R$ 159 bilhões previsto para este ano, não se fala. A ordem é falar do que deu certo, como a retomada do crescimento econômico, a queda da inflação e a redução dos juros. Das coisas ruins a oposição e o Ministério Público se encarregam.
Como se a população ignorasse a forma como se safou das duas denúncias de Janot (por corrupção passiva, obstrução de Justiça e associação criminosa), Temer gravou um vídeo em que aparece no papel de vítima.
– A verdade é libertadora. E não só nos livra das injustiças como nos dá ainda mais força, vontade e coragem para seguir em frente. Porque agora é avançar – diz no vídeo.
Antes amigo de emprestar avião para a família Temer, Joesley Batista figura nos programetes como um dos “trapaceiros trapalhões” – o outro é seu irmão, Wesley.
“Nada nem ninguém pode acabar com 50 anos de história”, diz a narradora, enquanto no vídeo aparece a foto de Janot. De fato, nada nem ninguém pode ignorar a história de resistência do MDB na época da ditadura, mas também não se pode apagar da fita os R$ 51 milhões encontrados no apartamento cedido a Geddel Vieira Lima, principal líder do partido na Bahia.