Enredado em sua própria trama, o empresário Joesley Batista dedicou o feriado da Independência a desmentir para Rodrigo Janot o conteúdo de sua gravação levada por engano à Procuradoria-Geral da República. Despistando a imprensa, Joesley chegou e saiu da PGR sem dar detalhes sobre o que declarou às autoridades em relação ao áudio vazado por sua defesa.
Atrapalhado, o dono da JBS gravou a si e ao colega Ricardo Saud, executivo do grupo, e fez revelações omitidas no acordo de colaboração premiada, importantes para a investigação em andamento. Escondeu também o papel do ex-procurador Marcello Miller, que supostamente ajudou a pensar o roteiro do acordo de colaboração premiada tratado com Janot.
Leia mais:
Janot evitou fracasso maior
Piratini projeta déficit de quase R$ 7 bilhões para 2018
Malas de dinheiro e tampa de caixão
Apesar dos indícios e ao contrário do que se especulava, Joesley e Saud não foram presos. Marcello, que prestará depoimento hoje, tampouco. Os empresários estão amparados por uma blindagem acordada entre a defesa e a PGR e, para retirá-la, deverá haver provocação de Janot ao Supremo Tribunal Federal.
O procurador-geral, munido de cautela, não pediu a prisão e preferiu reanalisar o processo e contrapor depoimentos antes de agir. Contudo, o pedido de revisão da delação ao STF não deve demorar a chegar. Isso porque Janot tem apenas nove dias corridos para limpar as gavetas e riscar as pendências de sua lista de afazeres. Quer evitar entregar a Raquel Dodge pedras que poderiam ser jogadas contra ele.
Se a delação de Lúcio Funaro, homologada nesta semana pelo ministro Edson Fachin, for considerada a tempo, é possível que uma nova denúncia contra pessoas próximas ao presidente Michel Temer e contra o próprio peemedebista seja entregue ao Supremo nos próximos dias.
Conforme adiantaram os ministros do STF e a PGR, mesmo que a delação da JBS seja revista, as provas trazidas pelos executivos da JBS ficam. Com isso, a conversa entre Joesley e Temer gravada pelo empresário pode ser usada para embasar pedidos de investigação contra Temer por obstrução de Justiça e formação de quadrilha. É provável que essas denúncias sejam elaborados por Janot até seu último dia no cargo, no dia 17.