Há uma semelhança impressionante nos discursos do presidente Michel Temer, do ex-presidente Lula e dos aliados dos dois quando rebatem as acusações de que são alvo. Essa semelhança ficou ainda mais evidente na semana que termina, marcada pela segunda denúncia do procurador Rodrigo Janot contra Temer e pelos ecos das afirmações de Antonio Palocci ao juiz Sergio Moro e aos procuradores do Ministério Público Federal, com quem negocia um acordo de delação premiada.
Lula e Temer se declaram perseguidos – um pelo juiz Sergio Moro, o outro pelo procurador Janot – e imaginam-se capazes de convencer a população a ignorar o que existe contra eles. Temer acusa Janot de conspirar contra ele para evitar aprovação das reformas, como se o procurador-geral da República agisse em causa própria. Lula atribui as acusações contra ele a um movimento para impedir que seja novamente candidato à Presidência da República.
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Em entrevista ao Gaúcha Atualidade desta sexta-feira, os deputados Alceu Moreira (PMDB) e Pepe Vargas (PT) verbalizaram essa interpretação particular das acusações que pesam contra Temer e Lula. Presidente estadual do PMDB, Alceu define a denúncia de Janot como uma farsa e ignora o inquérito da Polícia Federal que mapeou a atuação dos caciques do PMDB que, sob o comando de Temer, davam as cartas na Câmara e, depois, no Planalto. Alceu trata como se os R$ 51 milhões encontrados no apartamento emprestado por um amigo a Geddel Vieira Lima fossem questão menor ou equivalente à foto de Janot sentado em um bar com um dos advogados de Joesley Batista.
Presidente estadual do PT, Pepe repete o mantra de que não há provas contra Lula e que o ex-ministro Antonio Palocci mentiu para se livrar da cadeia.
Até nas metáforas as defesas se parecem. Logo depois de Janot formalizar a segunda denúncia contra Temer, o Palácio do Planalto divulgou nota dizendo que se tratava de uma peça de “realismo fantástico”. Lula afirmou que Palocci, um médico frio e calculista, “é tão esperto, que é capaz de simular uma mentira mais verdadeira que a verdade”. Palocci, autor do livro autobiográfico Sobre Formigas e Cigarras, virou ficcionista aos olhos dos antigos companheiros.