Com o sorriso de Monalisa que lhe é característico, o presidente Michel Temer comentou a vitória no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) quando saía de um jantar, na noite de sexta-feira:
– Muita tranquilidade e muita serenidade, viu? É o que vamos continuar a fazer. E pacificando o país.
O alívio com o 4x3 no TSE durou pouco. No fim de semana, Temer precisou administrar um novo princípio de crise com o Judiciário e recebeu a notícia de que o procurador Rodrigo Janot vai denunciá-lo nos próximos dias por corrupção passiva, formação de quadrilha e obstrução de Justiça. Mais: que a denúncia vai ligar o presidente à mala com R$ 500 mil entregue por um executivo da JBS a Rodrigo Rocha Loures, o homem de confiança escalado para ser o interlocutor de Joesley Batista nas questões envolvendo o governo e hoje preso na Papuda, em Brasília.
Leia mais:
A crise com o Judiciário foi provocada pela reportagem da revista Veja sobre um suposto esquema de espionagem do ministro Edson Fachin pela Agência Brasileira de Inteligência (Abin). A varredura na vida do ministro faria parte, segundo a Veja, da estratégia do governo para enfraquecer Fachin, com o objetivo de tirá-lo da relatoria da Lava-Jato e anular a delação premiada dos irmãos Batista.
Temer e o ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, Sergio Etchegoyen, ligaram para a presidente do Supremo, ministra Cármen Lúcia, desmentindo a Veja, mas ela não se convenceu e emitiu uma nota dura, dizendo que a espionagem é "própria das ditaduras" e que, se for confirmada, os responsáveis devem ser "exemplarmente processados e condenados na forma da legislação vigente".
O texto diz que "é inadmissível a prática de gravíssimo crime contra o Supremo Tribunal Federal, contra a democracia e contra as liberdades, se confirmada informação de devassa ilegal da vida de um de seus integrantes".
Para piorar a situação, o PSDB, um dos esteios que sustentam o governo, tem reunião hoje para discutir a eventual saída. Mesmo que a decisão seja adiada à espera da provável denúncia do procurador Janot, a falta de firmeza dos tucanos mina ainda mais os alicerces sobre os quais se assenta a coalizão.
ALIÁS
Se tem conselheiros que sugerem ou apoiam a ideia de espionar um ministro do Supremo Tribunal Federal para enfraquecer a Lava-Jato, Temer não precisa de oposição. Os artistas de Os Trapalhões não fariam melhor.