Reunida para decidir se sai ou se fica no governo de Michel Temer, a cúpula do PSDB fez exatamente o que imaginavam os que conhecem seu poder de indecisão: continua, mas pode rever a posição logo adiante. O PSDB tem fama de partido que considera o muro o lugar mais adequado para habitar. A duração da reunião (mais de três horas) mostrou o tamanho da divisão no ninho tucano.
A saída salomônica que se desenha é entregar os cargos se Temer for denunciado pelo procurador Rodrigo Janot, mas continuar apoiando as reformas. É um jeito de "tucanar a saída", neologismo criado para definir um jeito disfarçado de fazer alguma coisa, na política ou na vida.
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Depois de governar o país por oito anos com Fernando Henrique Cardoso e deixar como legado o Plano Real, que debelou a inflação, os tucanos embriagaram-se de arrogância. A despeito da força em São Paulo, governada pelo PSDB desde 1995, quando Mario Covas foi eleito, o partido perdeu quatro eleições presidenciais para o PT: duas com José Serra (2002 e 2010), uma com o governador Geraldo Alckmin (2006) e uma com o senador afastado Aécio Neves (2014).
Os tucanos votaram em massa pelo impeachment de Dilma Rousseff e aderiram de pronto ao governo Temer, ocupando ministérios de peso, seja pelo charme, como o de Relações Exteriores, seja pelo tamanho do orçamento, como Cidades. A participação cresceu no final de 2016, com a indicação de Antonio Imbassahy como ministro da Secretaria de Governo, em substituição a Geddel Vieira Lima. O partido tem ainda o Ministério dos Direitos Humanos, ocupado por Luislinda Valois.
O PSDB acorrentou-se a Temer na formação do governo pós-Dilma. Agora, tem dificuldade para administrar o barulho do rompimento, ao mesmo tempo em que teme o ônus de estar ligado a um presidente prestes a ser denunciado por corrupção passiva, obstrução de Justiça e associação criminosa.
No cálculo do custo-benefício, pesam a favor da continuidade o apoio do PMDB em 2018 e a proteção imediata a Aécio Neves. No outro prato da balança, está o risco de a impopularidade de Temer contaminar todas as candidaturas tucanas, incluindo deputados e senadores que disputam a reeleição.
Aliás
Lúcio Funaro, o doleiro-bomba que trabalhava para Eduardo Cunha e outros próceres do PMDB, contratou uma banca especializada em delação premiada. Quem negociou com ele tem motivo para tremer.