Pela primeira vez na história do Brasil, um presidente no exercício do cargo é alvo de uma denúncia criminal. Como se especulava desde o início da semana passada, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, denunciou Michel Temer por corrupção passiva. É a primeira de uma série. Depois da corrupção, virá a obstrução de Justiça e, possivelmente, mais duas – associação criminosa e prevaricação.
Em um texto contundente, Janot aponta evidências de que Temer e seu ex-assessor especial Rodrigo Rocha Loures praticaram crime de corrupção passiva. Amparada na delação premiada de Joesley Batista e na "operação controlada" que gravou a entrega de uma mala de R$ 500 mil para Loures, a denúncia veio a público quando o mercado já havia encerrado as operações, o que deixa o impacto para esta terça-feira. Na avaliação de Janot, Temer era o destinatário dos R$ 500 mil. O procurador pede ainda que o presidente repasse aos cofres públicos R$ 10 milhões. De Rocha Loures, estão sendo cobrados R$ 2 milhões.
A denúncia foi entregue ao Supremo Tribunal Federal (STF) no mesmo dia em que, numa cerimônia no Palácio do Planalto, Temer fez uma manifestação de confiança na superação da crise:
– Nada nos destruirá. Nem a mim, nem aos ministros.
A confiança de Temer tem origem na relação construída com o Congresso e na certeza de que terá os 172 votos necessários para barrar o avanço do processo, até porque boa parte dos deputados está ameaçada pela Lava-Jato. Hoje, os aliados garantem que ele conseguiria reunir bem mais do que esse número na Câmara. A ordem é queimar etapas e liquidar a fatura o mais depressa possível.
O sucesso dessa estratégia pode ser comprometido por dois fatos que independem do Planalto: a tática de Janot de apresentar cada denúncia em separado e possíveis delações premiadas do doleiro Lúcio Funaro, operador do PMDB, ou mesmo de Rocha Loures, que está preso em Brasília.
Outro complicador é o fato de que a votação na Câmara será aberta. Cada deputado terá de registrar seu voto, como fez no impeachment de Dilma Rousseff. Como a maioria concorre em 2018, o desgaste de votar a favor de um presidente acusado de corrupção e que tem apenas 7% de aprovação será levado em conta.
ALIÁS
A denúncia contra Temer deve precipitar a saída do PSDB do governo, com aval de Fernando Henrique Cardoso. Quando decidiram continuar, os tucanos avisaram que poderiam revisar a posição se surgissem
fatos novos.