A passagem relâmpago do prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), pela capital gaúcha, na palestra inaugural do 30º Fórum da Liberdade, entusiasmou os órfãos de um candidato de orientação liberal. Doria repetiu que seu único desejo é terminar bem o mandato em São Paulo e que não é candidato a governador nem a presidente da República. Para perguntas óbvias, respostas óbvias: ainda que lá no íntimo a candidatura ao Planalto esteja nos seus planos, é evidente que Doria não admitiria essa hipótese um ano e meio antes da eleição.
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Quem for além do declaratório e prestar atenção ao conjunto concluirá que um projeto de candidato ao Planalto passou por aqui. Pode não prosperar, até porque no mesmo dia o governador Geraldo Alckmin, candidato ao posto, sugeriu o nome de Doria para o governo de São Paulo, mas o tom e o conteúdo não deixam dúvida de que é uma carta a ser considerada no baralho da sucessão presidencial.
O tom de palanque ficou evidente no ataque ao ex-presidente Lula e ao PT, que motivou a primeira das 17 interrupções para aplausos.
– Lula, você não é o salvador da pátria. Você quase destruiu o país e não vamos permitir que destrua de novo – disse lá pelas tantas, como se o líder do PT estivesse no auditório ou participando de uma teleconferência.
A plateia delirou. E continuou aplaudindo quando falou das duas pesquisas em que aparece como o prefeito com melhor avaliação na história de São Paulo e relatou seus feitos nestes primeiros cem dias: os convênios que zeraram a fila de exames pelo SUS em 83 dias, o corte de cargos de confiança, a eliminação de carros oficiais, a modernização da gestão, as jornadas que começam às 7h, as reuniões aos fins de semana.
Para uma plateia que prega a redução do tamanho do Estado, Doria defendeu a privatização de tudo o que não seja obrigação essencial do poder público – da gestão dos parques à administração dos cemitérios.
Uma das frases que mais se encaixam no perfil de candidato foi dita para explicar por que saiu da zona de conforto para concorrer a prefeito:
– Eu não vou me calar diante desta minoria que destruiu o Brasil, amo minha pátria e vou fazer dela um lugar melhor.
ALIÁS:
Nem Michel Temer nem seus ministros fizeram uma defesa tão contundente das reformas previdenciária e trabalhista quanto João Doria. O prefeito fez um apelo aos empresários: "Mexam-se, gritem e não permitam que o Brasil se transforme numa República sindical".