Foram quatro sessões, com mais de 58 horas de debates, centenas de discursos na tribuna e apenas 15 dos 26 projetos do pacote do Executivo apreciados pelos deputados. Além da implacável "cera" praticada pela oposição, contribui para o atraso na análise das propostas uma série de erros de planejamento do governo Sartori. O principal equívoco foi a demora no lançamento das medidas, que já eram estudadas pelo Piratini desde os primeiros meses da administração. Por mais necessário que fosse o aprofundamento dos estudos, é inegável que os integrantes do governo demoraram para concluir o mapeamento das fundações e órgãos que seriam extintos e para propor novas medidas de ajuste fiscal.
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O efeito mais notável dessa demora, aliada ao aprofundamento da crise financeira, foi a corrosão da popularidade do governador. Depois de aplicar uma lavada no adversário Tarso Genro no segundo turno das eleições, Sartori teria condições políticas muito mais favoráveis para aplicar os "remédios amargos", como costuma dizer, nos primeiros meses da gestão. Em vez disso, priorizou o discurso da crise financeira no primeiro ano, somado à aprovação do aumento das alíquotas de ICMS – que foi superestimado, já que não causou o efeito desejado.
A condução do discurso de calamidade financeira do Estado prossegue até hoje, mas os efeitos devastadores do atraso no pagamento dos servidores, o aumento do desemprego no RS e a crise como um todo convulsionaram o ambiente político de tal maneira que o governo, embora tenha legitimidade para propor as mudanças, já é visto com desconfiança. A popularidade de Sartori ruiu e, com ela, a base aliada também começou a sofrer defecções. O resultado disso é a dificuldade para conseguir os 33 votos necessários à aprovação das propostas de Emenda à Constituição (PECs).
Outro erro, reconhecido por integrantes da base na Assembleia, aliás, foi o modo silencioso como agiu o Piratini, expondo as medidas aos aliados apenas às vésperas do anúncio delas. Isso demonstrou mais uma vez o distanciamento do governo em relação a partidos como PDT, PSDB e PP. No núcleo de governo, estão apenas integrantes do PMDB. O pragmatismo da troca de cargos por apoio legislativo começou a perder efeito. Embora PSDB e PP ainda votem fechados com Sartori, o PDT, com sete deputados, negocia individualmente os apoios. Assim, se agravam as dificuldades do Piratini para a sequência das votações.