A manutenção do ministro Geddel Vieira Lima na Secretaria de Governo da Presidência da República só tem uma explicação: depois que se acomodou no poder, com a aprovação definitiva do impeachment, Michel Temer se lixa para a opinião pública. É simbólica a opção de Temer por manter Geddel, acusado pelo ex-ministro Marcelo Calero de pressioná-lo a cometer uma irregularidade funcional para favorecer um negócio particular.
Se o presidente da República acha que não é grave um dos ministros mais poderosos de sua equipe fazer tráfico de influência, o que esperar do governo que acaba de completar sete meses? Se Temer não vê problema no fato de Geddel pressionar Calero a atropelar um parecer técnico do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) para liberar a construção de um prédio de 23 andares em área proibida, qual é o recado para os outros ministros? Que ministro não tem limites éticos?
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Recapitulando, Geddel tem interesse direto na construção do edifício. Comprou na planta um apartamento no 23º andar, com vista privilegiada para a paisagem de Salvador. Se o prédio não sair, prejuízo para Geddel e para seus sócios no condomínio.
A blindagem não se restringe ao Planalto. Aliados do governo no Congresso também trataram de amorcegar a acusação, como se fosse a coisa mais natural do mundo um ministro usar o poder que o cargo lhe confere para tentar burlar a lei e obter vantagem em um negócio imobiliário.
Pragmáticos, os deputados que assinaram o documento em defesa de Geddel devem achar que atropelar as regras do Patrimônio Histórico é nada perto dos bilhões saqueados da Petrobras. Cabe a pergunta: foi para isso que se empenharam tanto pelo impeachment?
Geddel é um dos homens mais próximos do presidente Temer, ao lado de Eliseu Padilha, Romero Jucá e Moreira Franco. Quando ainda era interino, Temer demitiu Jucá 12 dias depois de o companheiro assumir o Ministério do Planejamento, porque apareceu nas gravações de Sérgio Machado falando em "estancar a sangria da Lava-Jato". Agora, nomeou Jucá líder do governo e manteve Geddel no cargo, apesar de todas as evidências de que o ministro perdeu as condições para continuar sendo o interlocutor com o Congresso.