Se há um consenso no Brasil em relação ao Ensino Médio, é de que do jeito que está não pode continuar. Essa premissa norteia as mudanças que serão anunciadas nesta quinta-feira à tarde pelo ministro da Educação, Mendonça Filho, com o aval do presidente Michel Temer. As alterações nascem cercadas de polêmica e deixam no ar um imenso ponto de interrogação sobre o futuro do Ensino Médio.
Na pressa de promover alterações, o governo Temer optou por usar uma medida provisória, de tramitação mais rápida, em vez de um projeto de lei. Esse ponto até se entende, porque, se deixar para o Congresso apreciar no seu tempo, a reforma corre o risco de não ser votada antes de 2030. O problema é que a pressa, inimiga da perfeição, pode minar a credibilidade das mudanças.
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Será possível implementar uma reforma profunda no Ensino Médio em quatro meses? É esse o tempo que as escolas terão para se adaptar – na maioria dos Estados, as aulas recomeçam em fevereiro. Dirigentes de escolas privadas reclamam do açodamento e da falta de diálogo.
– Que o Ensino Médio precisa mudar, todos concordamos. Mas por que as escolas não foram consultadas? – reclama o presidente do Sindicato do Ensino Privado no Rio Grande do Sul, Bruno Eizerik, que nesta quarta-feira esteve em Brasília reunido com dirigentes de instituições de todo o país.
A proposta do governo prevê que, até a metade do Ensino Médio, todos os alunos tenham uma base curricular comum, dividida nas mesmas quatro áreas adotadas pelo Enem – linguagem, matemática, ciências da natureza e ciências sociais humanas. Na segunda metade, os estudantes elegerão as disciplinas que desejam cursar, levando em conta a faculdade pretendida ou a opção por um curso profissionalizante.
Para os que aos 15 anos já têm clareza do que desejam, a proposta parece perfeita. Mas e os que não sabem? Hoje, milhares de estudantes trocam de curso depois de entrar na universidade. Há outras perguntas que o MEC precisa responder. Como lidar com o risco de os estudantes optarem por se livrar de disciplinas que consideram difíceis e precisarem desse conhecimento mais adiante, se resolverem mudar de área? Como as escolas, especialmente as públicas, vão se adaptar em tão pouco tempo?
Aliás
No Rio Grande do Sul, o governo Tarso Genro promoveu uma mudança radical no Ensino Médio, mas o projeto perdeu fôlego na atual gestão. Em 2015, a média da rede estadual no Ideb foi 3,3, a pior da série histórica, inferior aos 3,4 de 2005.