Livre da moderação imposta aos juízes, Márlon Reis esteve à vontade nesta quinta-feira em um seminário sobre eleições promovido pelo Programa de Ciência Política da UFRGS. Criticou os caciques que se seguram no poder, como Renan Calheiros, e pregou uma reforma política que dê igualdade de representação a homens e mulher e que torne a Lei da Ficha Limpa, da qual foi um dos idealizadores, desnecessária.
Para ele, a próxima grande queda de braço relacionada a eleições será a luta para manter as empresas afastadas das campanhas. Márlon avalia que o Brasil passa por uma transição que vai encerrar o ciclo no qual a velha economia, beneficiada por contratos públicos, sustenta a velha política. A nova política, define, será resultado de uma sociedade mais complexa.
As declarações, não por acaso, lembram o discurso de Marina Silva. Em abril, Márlon anunciou que deixaria a magistratura para prestar consultoria eleitoral à Rede Sustentabilidade. Questionado se pensa em concorrer, disse que não poderia afirmar que desta água não beberá.
Também participaram do painel com Márlon o cientista político e professor da UFRGS Luciano Da Ros e o promotor Rodrigo Zilio. Coordenador do gabinete eleitoral do Ministério Público Estadual, Zilio falou a respeito dos problemas que envolvem a legislação e prejudicam o trabalho da Justiça Eleitoral. O promotor defendeu uma reforma que dê celeridade à Justiça Eleitoral para impedir que mandatos sub judice sejam exercidos de forma precária, pendurados em liminares.
Da Ros apresentou dados da sua mais recente pesquisa, sobre o sistema jurídico brasileiro. O estudo aponta que o Judiciário nacional é mais caro e tem mais funcionários do que as estruturas existentes em outros países, como Espanha, Estados Unidos, Portugal, Chile e Argentina.
O cientista político mostra que o número de servidores cresceu porque o Judiciário tem muito trabalho mesmo. Mas sugere que inchar a estrutura não é a melhor solução, pois essa medida nunca dará conta do serviço enquanto as regras processuais não forem mais racionais. Para ele, o problema está no alto grau de autonomia individual dos magistrados na hora de decidir. Uma alternativa, sugere, seria tratar de forma agregada conflitos semelhantes ou idênticos.