Senhoras e senhores, as notícias sobre a água que bebemos em Porto Alegre não são boas. São péssimas. O cheiro de podre que exala das torneiras _ e cuja origem o Dmae e a Fepam ainda não conseguiram identificar _ deverá sumir nos próximos dias, mas corre o risco de reaparecer ali adiante.
O problema de Porto Alegre foi identificado há mais de 40 anos: a água que o Dmae trata é captada em pontos com alto índice de poluição. À época, a prefeitura fez a opção que parecia mais sensata: manter a captação próxima à margem esquerda do Guaíba e investir na despoluição do lago. De lá para cá, a Capital e as cidades da Região Metropolitana cresceram, mas os investimentos em tratamento de esgoto não acompanharam essa expansão. Pior: os que foram feitos não produzem o resultado esperado porque milhares de residências simplesmente não estão conectadas à rede cloacal e despejam esgoto sem tratamento no Guaíba mesmo e nos seus afluentes, como o Gravataí, o Sinos, o Arroio Cavalhada e o Dilúvio, entre outros, via rede pluvial.
Mesmo o caudaloso Jacuí, que ajuda a movimentar o Guaíba e dispersar a matéria orgânica acumulada, recebe esgoto não tratado ao longo do seu curso. Dois terços do esgoto produzido no Rio Grande do Sul não são tratados.
Leia mais:
Por que aceitamos o mau cheiro da água?
"É possível que volte à normalidade e não tenhamos identificado a origem", diz diretor do Dmae
Resultados de testes não explicam alterações na água de Porto Alegre
Apresentada como uma solução pela prefeitura, a mudança do ponto de captação da água que abastece as estações São João e Moinhos de Vento é uma obra cara e de longo prazo. Ao custo estimado deR$ 150 milhões, não ficará pronta antes de 2020.
Técnicos da Fepam atribuem o mau cheiro à falta de chuva nos meses de maio e junho, mas ignoram a causa. Alertam que o problema tende a se repetir enquanto não for atacado na origem: a falta de saneamento. A secretária de Ambiente, Ana Pellini, contesta a afirmação da prefeitura de que a Cettraliq, empresa que trata os efluentes líquidos de 1,5 mil empresas, seria "clandestina". Nos arquivos da Fepam consta um documento emitido em 2002 pela Secretaria Municipal do Planejamento, atestando que a empresa Pró-Ambiente Análises Químicas e Toxicológicas (nome original da Cettraliq), está apta a operar com tratamento de efluentes.
Ana Pellini reconhece que a Cettraliq terá de sair do bairro Navegantes, mas diz que é preciso tempo para se instalar em outra área, fora de Porto Alegre, ou para as empresas que contratam seus serviços buscarem uma alternativa.