Um a um, os partidos aliados foram abandonando a presidente Dilma Rousseff e reforçando a impressão de que será muito difícil barrar a aprovação do impeachment na Câmara. Restaram o PT, o PC do B e o PDT, este com alguns deputados se declarando indefinidos. Mesmo com as derrotas das últimas 48 horas, o governo se recusa a jogar a toalha e tenta evitar o desânimo dos militantes. Dilma e os ministros dizem que vão lutar até o fim para evitar o que chamam de golpe.
Lutar até o fim significa investir em três frentes. A primeira se dá na Câmara, onde a batalha é voto a voto. O Palácio do Planalto aposta na divisão dos partidos que aprovaram o voto a favor do impeachment, mas não estão coesos, caso do PMDB, do PP e do PSD. Ao governo não interessa se é voto contra, ausência ou abstenção. O que importa é impedir que a oposição consiga os 342 votos necessários à aprovação. O ministro do Trabalho, Miguel Rossetto, diz que a oposição está em clima de "já ganhou", dizendo que tem entre 360 e 380 votos, para tentar formar uma onda favorável ao afastamento. Rossetto e os colegas Jaques Wagner e Ricardo Berzoini tentam convencer os deputados de que o jogo ainda não está jogado.
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A se confirmar a aprovação do impeachment, o governo ainda tentará reverter a derrota no Senado, ao qual cabe julgar a presidente, mas sem descuidar de outra frente, a jurídica. Um grupo de advogados está atento a todas as brechas que possam ensejar uma ação no Supremo Tribunal Federal.
Na seara jurídica, a primeira contestação diz respeito à ordem de votação escolhida pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha. Em vez de seguir a ordem alfabética adotada por Ibsen Pinheiro em 1992, Cunha optou por chamar os deputados por região, começando pelo Sul, onde o apoio ao impeachment é maior.
Na entrevista que deu nesta quarta-feira a um grupo de jornalistas, Dilma tentou demonstrar confiança na vitória e disse que, se ganhar, vai propor um pacto para superar a crise política. Se perder no Senado, é "carta fora do baralho". O pacote para o caso de sobreviver ao impeachment inclui a apresentação de uma emenda propondo a convocação de uma Assembleia Constituinte exclusiva para aprovar a reforma política em prazo definido. Em princípio, seriam seis meses de trabalho.
Pacto também é a proposta do vice-presidente Michel Temer, para o caso de assumir a cadeira de Dilma. No discurso, o caminho ideal: quem for derrotado respeita a decisão da maioria e trabalha para que o país retome o caminho da normalidade. Na prática, uma utopia.
No clima belicoso que tomou conta do país, será difícil convencer os derrotados a aceitarem o resultado da votação. Líderes do PT e de movimentos sociais mandam recados, dizendo que haverá reação. Do outro lado, Eduardo Cunha lembra que se Dilma sobreviver a este processo, há outros nove pedidos na fila.