Com o relatório do deputado Jovair Arantes (PTB-GO) sustentando que a presidente Dilma Rousseff cometeu crime de responsabilidade, são remotas as chances de o plenário da comissão de impeachment decidir que não cabe o processo no Senado. Antes mesmos de conhecer as conclusões do relator, o espírito dos integrantes do colegiado já era desfavorável ao governo. A tendência é de vitória da oposição, o que não chega a ser surpresa para quem acompanha os trabalhos desde o início.
Jovair já havia antecipado em uma entrevista à Rádio Gaúcha, na segunda-feira, que seu relatório seria favorável ao impeachment. No documento lido por cerca de cinco horas, a principal surpresa foi a abertura de brechas para que o Senado busque outras provas, se o processo for aberto, e leve em conta, também, as pedaladas fiscais do primeiro mandato, mesmo que as contas ainda não tenham sido julgadas. O que existe até agora é uma recomendação do Tribunal de Contas da União pela rejeição. A defesa do governo vem sustentando que Dilma não pode ser julgada por fatos alheios ao mandato atual.
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Já que a batalha na comissão é considerada perdida, o governo prefere gastar energia com o que realmente interessa: a votação no plenário da Câmara. Lá, bastam 172 deputados para estancar o processo. Seriam 171, mas como Eduardo Cunha decidiu que vai votar, o governo precisará de mais um para impedir que Dilma seja processada no Senado.
Se o impeachment for aberto no Senado, será o fim da carreira política de Dilma. Mesmo que a lei preveja o afastamento temporário até o julgamento, ninguém de sã consciência acredita que seja possível voltar ao cargo depois de seis meses no limbo. Por isso, a Câmara é, na prática, a última trincheira. O governo ainda pode tentar um recurso no Supremo Tribunal Federal, com remotas chances de sucesso. O Supremo se manifestou sobre o rito, mas, no mérito, o mais provável é respeitar a decisão dos deputados.
O Planalto opera no varejo, tentando conquistar voto a voto com oferta de cargos no governo, enquanto Dilma se encarrega do discurso político, repetindo à exaustão que não cometeu crime de responsabilidade e que, nessas condições, impeachment é golpe.
O discurso do PT contrasta com a prática adotada pelo partido à época em que era oposição. Nas vezes em que pediram o impeachment de adversários, os petistas nunca se preocuparam com a caracterização do crime de responsabilidade. Esse mea-culpa o PT precisa fazer e reconhecer que errou no passado, quando pediu o impeachment e a renúncia de Fernando Henrique Cardoso. Se é golpe em relação a Dilma, também era contra FHC e contra a então governadora Yeda Crusius (PSDB).