Empossado no Ministério da Fazenda sob o olhar desconfiado de investidores do mercado financeiro, Nelson Barbosa fez do seu primeiro discurso uma espécie de carta de intenções. Reafirmou o compromisso de dar continuidade ao ajuste fiscal, mas incluiu na agenda uma palavra que andava esquecida no turbilhão da crise política: desenvolvimento.
A fórmula do ajuste combina corte de gastos (que depende da vontade do Planalto), recriação da CPMF (que enfrenta forte resistência no Congresso) e aprovação de medidas estruturais de longo prazo, como a reforma da Previdência (um tema sempre difícil para os políticos). Seriam essas as condições para criar um clima favorável à retomada do desenvolvimento e à reversão das expectativas negativas em relação ao Produto Interno Bruto.
No discurso de posse e em teleconferência com investidores, Barbosa sustentou que ajuste fiscal e crescimento econômico podem andar juntos. Críticos do governo dizem que isso é fantasia: que primeiro é preciso equilibrar as contas para criar o clima favorável aos investimentos. Em um dos trechos da manifestação, Barbosa disse que ao Ministério da Fazenda não basta elaborar propostas. Que é preciso construir consensos. Essa é uma sinalização de que atuará para tentar convencer o Congresso da necessidade de aprovar medidas antipáticas, como a reforma da Previdência.
Depois de ser confirmado como substituto de Joaquim Levy, Barbosa surpreendeu aliados e adversários do governo ao defender a adoção da idade mínima para a aposentadoria de trabalhadores pelo INSS. Com a derrubada do fator previdenciário, substituído pela fórmula 85/95 progressiva (soma de idade com tempo de contribuição), os gastos da Previdência com aposentadorias aumentaram e devem agravar ainda mais a situação das contas públicas nos próximos anos.
Reconhecer a necessidade de reformar a Previdência é uma coisa. Conseguir apoio no Congresso, com o governo desgastado do jeito que está, é outra, bem diferente, ainda mais sabendo-se que os sindicatos vão tentar impedir a aprovação. Com tão poucas diferenças em relação ao discurso de Joaquim Levy, a pergunta mais ouvida ontem foi: se os dois defendem a mesma coisa, por que trocar? O próprio Barbosa respondeu a essa pergunta, em inglês, na teleconferência com investidores. E disse que só podia responder por ele.
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A verdade é que faltou a Levy apoio político para levar adiante o ajuste fiscal. Seu projeto era mais radical e, por isso, mais agradável aos ouvidos do mercado e mais agressivo aos olhos dos sindicalistas. Barbosa tentará equilibrar esses dois pratos, até para que a presidente possa continuar com o apoio do PT e dos trabalhadores. O mercado financeiro reagiu mal à indicação e demonstrou sua insatisfação com a resposta de sempre: dólar em alta e Bolsa em queda.