Calado, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, seria mais convincente do que foi na entrevista ao repórter Júlio Mosquéra, da TV Globo, sobre suas contas no Exterior. Cunha subverteu o conceito de usufruto para tentar se safar da acusação de que mentiu à CPI da Petrobras quando disse que não tinha contas no Exterior. Como passou o dinheiro para um fundo “trust” administrar, o deputado diz que não é dono. É usufrutuário.
Se daquela explicação é possível extrair alguma conclusão é a de que Cunha está tentando enrolar os deputados do baixo clero com essa conversa de que ser beneficiário de uma conta secreta não é o mesmo que ser dono do dinheiro. No conceito clássico, usufruto é, segundo o dicionário Houaiss, “direito conferido a alguém, durante certo tempo, de gozar ou fruir de um bem cuja propriedade pertence a outrem, de retirar-lhe os frutos e as utilidades que produz”. São comuns os casos de pais que transferem imóveis aos filhos, com cláusula de usufruto enquanto viverem. Não é o caso de Cunha e de seus bens.
O presidente da Câmara admite que, na origem, era dono do dinheiro transferido para o “trust” administrar. A explicação dada para a origem dos dólares é tão risível quanto a justificativa que deu para a conta aberta em nome de sua mulher, Claudia Cruz, de que o “trust” não paga despesas com educação. Cunha diz que ganhou dinheiro no passado exportando carne processada para a África, mais especificamente a República do Congo, e com investimentos em bolsas de valores da China e dos Estados Unidos.
As contas secretas foram localizadas pelo Ministério Público da Suíça e informadas às autoridades brasileiras, graças a um acordo de cooperação. Pois, mesmo jurando que não é dono do dinheiro, Cunha tentou, sem sucesso, anular o acordo com a Suíça que permitiu a troca de informações e, assim, inutilizar as provas. Não há possibilidade de recurso na decisão da Suíça.
Como se toda essa lorota já não fosse suficiente para desacreditar a defesa, Cunha disse ao repórter da Globo que emprestou mais ou menos US$ 1 milhão ao falecido deputado Fernando Diniz e que não tem certeza se recebeu o dinheiro de volta. O empréstimo é a explicação oficial para o depósito de US$ 1 milhão que o lobista João Augusto Henriques diz ter feito nas contas de Cunha a pedido de Felipe Diniz, filho de Fernando. Não é comum que uma pessoa empreste US$ 1 milhão de maneira informal, só no fio do bigode. Mais estranho ainda é o credor não saber se a dívida foi quitada ou não. A ser verdadeira essa afirmação, Cunha é tão rico, que US$ 1 milhão a mais, US$ 1 milhão a menos, não fazem diferença nas contas.