Preocupado com o destino do Atelier Livre Xico Stockinger da Prefeitura Municipal de Porto Alegre, um grupo de artistas e professores está mobilizado a fim de chamar a atenção do poder público para os problemas de manutenção física do espaço – localizado no Centro Municipal de Cultura, Arte e Lazer Lupicínio Rodrigues – e de carências no corpo docente, entre outras questões.
Na quinta-feira passada, cerca de 30 integrantes do Movimento SOS Atelier Livre POA reuniram-se no local com os representantes dos dois então candidatos a prefeito da Capital. A artista e professora Miriam Tolpolar, diretora da instituição, apresentou o prédio para Daniel Rigon, da equipe de Nelson Marchezan Júnior, que conferiu as salas de aula de desenho e pintura. Na ocasião, também foi entregue um manifesto elaborado pelo Comitê Arte Livre (CAL), que já conta com quase 1,8 mil assinaturas.
Leia a íntegra do manifesto:
Leia também
Ingra Lyberato lança livro de memórias na Feira do Livro
Ex-Musa do Grêmio, Carol Alves vai estrelar filme
Livro "Cartas", de Caio Fernando Abreu, ganha edição em e-book
MANIFESTO
Nós da comunidade gaúcha, integrantes do Movimento SOS Atelier Livre POA, vimos registrar nossa inconformidade com relação ao Atelier Livre Xico Stockinger da Prefeitura de Porto Alegre alertar sobre a situação de gradativo abandono a que o Atelier vem sendo submetido.
Entendemos que não se pode aceitar passivamente que um equipamento, que é parte do Centro Municipal de Cultura, que é público, portanto presta serviço aos cidadãos, pagantes de impostos, entre em situação de desativação, não obstante a qualidade e relevância de seu trabalho.
Como se trata de uma escola de arte, falemos primeiramente do que é a arte. Falemos também do que a arte significa em termos da construção do ser humano. Neste sentido, mencionamos aqui algumas das muitas facetas desta questão:
- quanto a importância de prover para o desenvolvimento de cidadãos mais criativos, tanto na questão de sua expressão individual, quanto no seu fazer cotidiano, nisto incluindo-se sua atuação profissional e cidadã, a aprendizagem da arte amplia a capacidade para resolver problemas;
- liberta e desenvolve o sensível;
- a atividade artística também é muito importante no auxílio do equilíbrio emocional e da cura psíquica;
- o fazer artístico perpassa todas as áreas do conhecimento e do trabalho, ao trazer o pensamento divergente criativo.
No entanto, apesar do acima exposto, uma radiografia do Atelier Livre nos demonstra, imediatamente, a pouca atenção que o poder público tem dado a essa instituição:
A permanente dificuldade na manutenção física e na compras de equipamentos;
Essa dificuldade ocorre também porque mesmo as verbas geradas pelas matrículas não são revertidas ao Atelier em sua integralidade;
O número de alunos,em torno de 600 nesse momento, demonstra a relevância do Atelier Livre para a comunidade;
Há demanda reprimida: as vagas são disputadas, não somente pela comunidade em geral, mas também por alunos do Instituto de Artes - UFRGS, por exemplo, que ali ampliam sua prática;
As atividades do Atelier Livre estendem-se também em atividades com as comunidades do entorno do mesmo.
O último concurso público para professores para o Atelier Livre ocorreu há 20 anos (1996). Nesse mesmo concurso foram abertas 17 vagas, mas apenas 10 foram preenchidas. O número minguante de professores por falta de concurso público - de 25 professores em 1996, hoje há apenas dez. Ao longo desses dez anos, portanto, vários professores se aposentaram, sem que fossem substituídos. Já para o próximo ano, 2017, não há previsão de profissional para ministrar História da Arte.
Como há já alguns professores próximos ao tempo de aposentadoria, é certo que os poucos que restarem terão imensa dificuldade em manter o serviço funcionando como deve, até chegar o momento em que não haverá mais professores. Tal redução acarreta, dentre outras consequências:
• dificuldade de criação e manutenção de projetos;
• redução na oferta de oficinas que possam corresponder à diversidade de assuntos do mundo da arte e dos interesses dos alunos;
• a subutilização de um espaço próprio e de uma estrutura excepcionais (apesar dos problemas citados) ;
• ao invés da ampliação de todo o potencial que o Atelier Livre pode oferecer aos cidadãos porto-alegrenses, dada a alta qualificação de seus professores/artistas, vê-se que a gradativa redução de seu quadro docente está levando paulatinamente o Atelier Livre à inanição.
Os fatos têm nos demonstrado diariamente que a humanidade está mergulhada e perdida num turbilhão de desorientação e violência. Portanto, cada ação que se faça no sentido de reverter tal estado de coisas reveste-se de extrema relevância. O trabalho da e com a arte desperta o indivíduo para infinitas possibilidades de desenvolvimento de sua auto-expressão e de um ver e redescobrir o mundo sob novos olhares, numa ampliação da sua capacidade de compreensão e, consequentemente, de tolerância e paz com o diverso.
Cabe lembrar que Porto Alegre tem se expandido como polo de cultura, não só do Estado do RS, mas também do Cone Sul, portanto não fazendo sentido que qualquer espaço produtor de cultura seja minimizado. Em países desenvolvidos há cada vez mais o fortalecimento da indústria criativa, desta forma valorizando os talentos locais, os quais muitas vezes passam a produzir em outras regiões do País e até no exterior.
Dado o acima exposto, o Comitê Arte Livre (CAL) que integra o Movimento SOS Atelier Livre POA chama a atenção dos candidatos à Prefeitura da Capital para que esse quadro seja revertido, especialmente para a necessária realização urgente de concurso público para complementação do quadro de professores do Atelier Livre.
Movimento SOS Atelier Livre POA