O jornalista Vitor Netto colabora com o colunista Rodrigo Lopes, titular deste espaço.
Líder autoritário conhecido em toda a América Latina, o ex-presidente do Peru Alberto Fujimori, que morreu na quarta-feira (11), após enfrentar um câncer na língua, colecionou episódios controversos ao longo dos seus 86 anos.
O correspondente da GloboNews em Buenos Aires e apresentador da CBN, Ariel Palacios, publicou neste ano o livro América Latina lado B. Em abril, a coluna conversou com o jornalista, que apresenta na obra algumas dessas histórias de Fujimori, assim como de outros líderes latinos.
Eleito em 1990, apenas dois anos depois, em abril de 1992, com apoio do exército, deu um autogolpe de Estado, dissolveu o Parlamento e interveio no Poder Judiciário.
Palacios conta em seu livro que, logo após o autogolpe, Susana Iguchi, esposa de Fujimori, descobriu o primeiro caso de corrupção do governo do marido e o denunciou aos assessores. Fujimori não gostou e ordenou que a polícia secreta — chefiada por Vladimiro Montesinos — torturasse a própria esposa.
Montesinos era responsável pelo serviço de inteligência do Peru, conselheiro de segurança do governo e fundador do grupo Colina, que operou massacres de civis e violações dos diretos humanos durante o chamado fujimorato.
Kenji, um dos filhos do ditador, era, nas palavras de Palacios, um "menino mimado". Certo dia, quando brincava com os amigos, quis passear com eles em um helicóptero militar. Os oficiais atenderam o pedido.
Foi nos anos 2000, no entanto, que se deu o episódio mais polêmico da vida política de Fujimori. O então presidente viajou para a cúpula da Cooperação Econômica Ásia-Pacífico, em Brunei e, depois, passaria pelo Panamá para participar da Cúpula Ibero-Americana. Contudo, ao fazer uma escala em Tóquio, anunciou que não retornaria ao Peru e que ficaria por lá. Na sequência, enviou um fax com a sua renúncia.
Prisão
Em 2005, o ditador fez uma viagem ao Chile e a Justiça peruana pediu a sua extradição. Em abril de 2009, foi condenado a 25 anos de prisão por assassinatos, sequestro e torturas. No mesmo ano, foi condenado a outros sete anos e meio de prisão por desvio de fundos públicos.
Fujimori passou 16 anos preso. Em 2023, foi solto por decisão do Tribunal Constitucional do Peru. Filiou-se ao partido Força Popular em junho deste ano e havia a expectativa que ele concorresse à presidência em 2026.
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