A pseudopolêmica a respeito do uniforme do Comitê Olímpico do Brasil (COB), que será utilizado nesta sexta-feira (26), na cerimônia de abertura dos Jogos de Paris, é um daqueles exemplos de como o brasileiro adora criticar o... brasileiro. Gosto se discute - e tudo bem eu, você e a Anitta discordarmos.
Não vou entrar no mérito se o desenho das roupas é bonito ou feito - há gente mais gabaritada do que eu para opinar sobre moda. No debate em questão, um ponto que os críticos ignoram é que, por trás do que vemos, há uma processo interessante: o uniforme foi feito por costureiras do programa Pró Sertão, do Sebrae, e das bordadeiras de Timbaúba dos Batistas, cidade do Rio Grande do Norte na qual um terço da população vive da renda gerada por meio do ofício. Esse trabalho valoriza a identidade cultural brasileira. Mais ainda: feito com materiais ambientalmente sustentáveis, como uso de pigmentos naturais e tecidos reciclados - algo muito valorizado lá fora e que deveria também sê-lo aqui dentro.
A ideia era fomentar as raízes brasileiras e, sobretudo, nordestinas, já que o berço da Riachuelo, varejista patrocinadora dos atletas, é o Rio Grande do Norte.
Os chinelos não são representatividade do pouco caso dado aos atletas no Brasil. Ao contrário, Havaianas são uma das marcas que soube se reinventar ao longo dos anos e que se tornou objeto e desejo mundial. Fossem atletas de um outro país usando sandálias típicas, talvez estivéssemos aplaudindo.
Criticar o look, sem levar em conta esses pontos, é reduzir o debate a algo superficial, ao agrado das redes sociais. Em vez disso, valeria perguntar o que as bordadeiras nordestinas, que terão seu trabalho revelado para o mundo nesta sexta-feira, acham disso tudo - e, claro, da música de Anitta...