Rodrigo Lopes

Rodrigo Lopes

Formado em Jornalismo pela UFRGS, tem mestrado em Ciência da Comunicação pela Unisinos e especialização em Jornalismo Ambiental pelo International Institute for Journalism (Berlim), em Jornalismo Literário pela Academia Brasileira de Jornalismo Literário, e em Estudos Estratégicos Internacionais pela UFRGS. Tem dois livros publicados. Como enviado do Grupo RBS, realizou mais de 30 coberturas internacionais. Foi correspondente em Brasília e, atualmente, escreve sobre política nacional e internacional.

Política
Opinião

Infelizmente, votamos em pessoas. Não em ideias

Populismo pode não ter nascido na América Latina, mas encontrou por aqui terreno fértil

Rodrigo Lopes

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Certa vez, entrevistado por um jornalista em seu exílio em Madri,  Juan Domingo Perón explicou:

- Veja, na Argentina há uns 30% de radicais, que vocês entendem aqui como liberais, uns 30% de conservadores e outros tanto de socialistas.

O jornalista, surpreso, retrucou.

- Mas e os peronistas?

Perón riu e disse.

- Peronistas somos todos.

Na segunda-feira (1º), completaram-se 50 anos da morte de Perón. Seria arriscado - e um pouco impreciso - dizer que a América Latina, ou mesmo Perón, pariu o populismo. Mas talvez em poucos lugares do mundo esse modus vivendi político encontrou terreno tão fértil. Aliás, tem coisas que só ocorrem mesmo por aqui: onde mais marxismo se encontraria com cristianismo senão na América Latina?

Mas voltemos ao populista e sua definição: a prática política na qual o governante, em geral com bandeira nacionalista, cria uma relação direta com o povo por meio de seu carisma, ações assistencialistas e discurso de união das massas.

Eu acrescentaria uma característica a mais: o personalismo. Votamos em pessoas, não em ideias ou partidos. Dias atrás, o presidente nacional do PL, Valdemar da Costa Neto, disse o seguinte:

- Nós queremos o Bolsonaro candidato a presidente do Brasil pelo PL. Agora, se ele não for, quem decide quem vai ser o candidato a presidente é o Bolsonaro. Quem decide quem vai ser o candidato a vice-presidente é o Bolsonaro.

O que seria isso senão personalismo? Ou, do outro lado do espectro político, o que explica, além do personalismo e da ganância pelo poder, Lula dizer que se todos indicadores mostrarem que só ele pode derrotar a extrema direita, pode ser candidato de novo em 2026?

Nesses pagos, populismo se confunde com caudilhismo: o herói, o salvador da pátria, o pai dos pobres, o mito. Das antigas: Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek, Jânio Quadros e Jango. Da América hispânica, além de Perón, Simón Bolívar, Fidel Castro, Hugo Chávez, Evo Morales. Do Brasil contemporâneo, Bolsonaro e Lula.

Aliás, o fenômeno das redes sociais turbina - e muito - o populismo: 

- Relação direta com as massas: o que mais um populista dos tempos atuais deseja senão usar o X para dispensar a imprensa profissional, e, pretensamente (e falsamente), se comunicar diretamente com o público?

- Nacionalismo: que outro momento histórico, além dos anos 1930 do século 20, esse movimento esteve tão em voga?

- Carisma: bem, nesse caso, se o político em questão não o tiver, as próprias redes se encarregam de criar. Artificialmente, é claro.

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