Quem conhece o trabalho do repórter fotográfico Jefferson Botega sabe que ele costuma trazer uma perspectiva diferente sobre os fatos. Plongée (que em francês significa "mergulho") é um dos enquadramentos preferidos do profissional. Esse tipo de olhar, de cima para baixo, traz a ideia de que a câmera estaria mergulhando no objeto fotografado.
Jeff, como é chamado pelos colegas, está cobrindo a atual catástrofe das chuvas no Estado desde o início. Mostrou cenas dramáticas nos veículos do Grupo RBS da situação no Vale do Taquari.
Estas acima, feitas com um drone, foram produzidas em Roca Sales e Arroio do Meio.
— A ideia foi retratar a tragédia das famílias que perderam tudo a partir de um ângulo que mostrasse como somos pequenos e vulneráveis diante da força da natureza — explicou.
Os dois municípios estavam isolados. Para chegar às regiões de desastre, Jeff e o repórter Lucas Abati precisaram caminhar muito, cruzar de barco trecho de rio onde antes havia uma ponte de 400 metros, pegaram carona e utilizaram estradas alternativas. Ele reflete:
— Sentei em meio aos entulhos de uma casa para me abrigar do sol e subir o drone.
A percepção que tinha do chão se amplificou com as imagens aéreas.
As casas pareciam brinquedos desmontados por uma criança na hora do lazer.
Nas casas que ficaram em pé, eu tentava imaginar como era a vida daquelas famílias.
Quantos momentos naquela sala, quantas memórias aqueles quartos guardavam, quanto amor naquelas cozinhas, quanta festa naquelas piscinas. O domingo não vai começar com o cheiro de churrasco, os verões não serão mais o mesmos e a casa de uma família feliz é agora um amontoado de entulho. Agora, tudo é lembrança.