Várias interpretações são possíveis a partir do discurso de Javier Milei, na terça-feira (2), por ocasião do Dia do Veterano e dos Caídos nas Malvinas, na Praça San Marín, em Buenos Aires. Internacionalmente, a frase que mais chamou a atenção foi o apoio a uma "hoja de ruta" para a recuperar a soberania sobre as ilhas que levaram Argentina e Reino Unido a uma guerra, em 1982.
A expressão significa algo como um "plano de ação", um roteiro. Em outras palavras, perante os militares, a fala de Milei foi entendida como uma convocação para os argentinos voltarem a questionar a soberania das Malvinas, hoje território britânico.
Aliás, as Malvinas são um dos poucos temas que conseguem unir todos os tons do espectro político argentino - da extrema esquerda à extrema direita. A surpresa com a fala deve-se à admiração que Milei nutre pela ex-primeira-ministra britânica Margaret Tatcher. A dama de ferro é uma espécie de inspiração para o presidente por sua agenda liberal. Ao mesmo tempo, era ela a comandante-em-chefe do Reino Unido na guerra, quando despachou para o Atlântico Sul a esquadra que, em poucos dias, derrotou a marinha argentina - e sepultou a aventura do regime militar.
O presidente, no entanto, tomou todo o cuidado para não criticar abertamente o Reino Unido.
A fala de Milei, no entanto, permite outras interpretações. Primeiro porque veio acompanhada de uma convocação por "reconciliação" com as forças armadas. Logo, além de um afago ao nacionalismo da caserna, como faziam Donald Trump e Jair Bolsonaro, por exemplo, o presidente argentino alfineta a esquerda em geral e o kirchnerismo em particular ao mexer com a memória da última ditadura. Para muitos, seu discurso de reconciliação foi interpretado como negacionismo em relação ao terrorismo de Estado que vigorou entre 1976 e 1983.
Em tempo, o presidente argentino segue sua senda revisionista. No mesmo evento, anunciou a troca do nome de um salão da Casa Rosada que se chamava Povos Originários para Heróis das Malvinas. Ele já havia alterado o nome do Salão das Mulheres, no Dia das Mulheres, e promete também renomear o Centro Cultural Néstor Kirchner.