Foi preciso que várias entidades criticassem o tom neutro do Brasil diante da agressão a que Israel foi vítima no final de semana para que o governo Lula mudasse o tom de suas declarações e, finalmente, condenasse a ofensiva realizada pelo Irã. Também precisou que o chanceler Mauro Vieira fosse provocado pelos jornalistas para manifestar a condenação.
- O Brasil condena sempre qualquer ato de violência e o Brasil conclama sempre o entendimento entre as partes - disse o ministro.
O chanceler ficou visivelmente incomodado ao ser questionado pelos repórteres. Principalmente porque as perguntas foram feitas durante a visita oficial da ministra argentina das Relações Exteriores, Diana Mondino.
Mais uma vez, com a demora, o governo brasileiro perdeu a oportunidade de afastar qualquer dúvida de suposto alinhamento com grupos terroristas e países que apoiam a causa extremistas. Enquanto as grandes nações do Ocidente ou seus líderes condenaram de forma veemente o ataque ainda na noite de sábado (13) e ao longo do domingo (14), o Itamaraty expressou uma nota insossa, dizendo apenas que "acompanha com grave preocupação relatos de envio de drones e mísseis do Irã em direção a Israel, deixando em alerta países vizinhos como Jordânia e Síria".
Percebe-se, mais uma vez, dois pesos e duas medidas. Em relação ao bombardeio atribuído a Israel realizado contra a embaixada do Irã em Damasco, no dia 1º, o tom foi outro. “O governo brasileiro condena o ataque aéreo, em 1º de abril, contra o consulado da República Islâmica do Irã em Damasco, na Síria, que provocou mortes e ferimentos entre funcionários diplomáticos e consulares", disse o Itamaraty na ocasião.
Mais cedo, a Confederação Israelita do Brasil (Conib) lamentou a reação brasileira:
- A posição do governo brasileiro em relação ao ataque do Irã contra Israel é mais uma vez frustrante. O mundo democrático e vários países do Oriente Médio se uniram a Israel em condenar e combater o ataque do Irã. Já a atual política externa do Brasil optou por se colocar ao lado da teocracia iraniana, desviando novamente de nossa linha diplomática histórica de condenar agressões desse tipo. Lamentável - disse o presidente da entidade, Claudio Lottenberg.
A Federação Israelita do Rio Grande do Sul (Firs) expressou indignação com a reação brasileira, por meio de nota assinada pelo presidente Marcio Chachamovich.
"O Brasil optou por uma postura de não condenação, posicionando-se de maneira preocupante ante as agressões sofridas pela nação israelense. A atitude do Brasil vai na contramão das manifestações das principais democracias mundiais e da própria ONU, que condenaram veementemente as agressões praticadas pelo Irã.
Caberia ao Governo Brasileiro, nessa esteira, também condenar o ataque de um país financiador de diversos grupos terroristas que desestabilizam a situação no Oriente Médio. A FIRS espera que a chancelaria brasileira reveja sua posição e condene a agressão à única democracia do Oriente Médio", afirmou a entidade.