O tema da agricultura aproxima a agenda global, como a COP28, em Dubai, das realidades locais. No Rio Grande do Sul, Estado agro por natureza, esse link é urgente. Discussões sobre o sistema alimentar ainda são recentes nas conferências da ONU sobre o clima. Começaram em 2017, quando uma decisão tomada no âmbito da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (UNFCCC) reconheceu o potencial da agricultura no combate às mudanças climáticas. Foi criado o Grupo de Koronívia, a fim de equacionar a questão da segurança alimentar à adaptação e resiliência das cadeias produtivas, garantindo a produção de alimentos com sustentabilidade.
No ano passado, em Sharm El-Sheikh (Egito), foi definido um dia específico da COP27 dedicado ao tema. Agora, em Dubai, o assunto beira a maioridade. Há uma equação a ser equilibrada: os sistemas alimentares são, ao mesmo tempo, causas e vítimas da crise climática. Contribuem para um terço das emissões de gases de efeito estufa, mas são também altamente vulneráveis ao aquecimento global — como sabemos, aliás, no RS, com períodos de estiagem e outros com excesso de chuvas. Mas há dois outros fatores: a população mundial vem aumentando, logo o agro é fundamental para garantir segurança alimentar para esse mundo superpopuloso. E, se realizado de forma sustentável (cujas tecnologias também envolvem muito dinheiro), tem alto potencial de mitigação das emissões de gases de efeito estufa. Ou seja, combate o aquecimento global. O problema é como juntar essas peças.
Neste domingo (10), em Dubai, a COP28 realizou o "Dia da Comida". E o governo brasileiro e Confederação Nacional da Agricultura embarcaram na iniciativa. Vários painéis foram realizados ao longo do dia.
Em um deles, secretários de Meio Ambiente de vários Estados discutiram agricultura e clima: instrumentos para o desenvolvimento rural sustentável. A representante do governo gaúcho, a secretária Marjorie Kauffmann, destacou que, embora, no mundo, o setor energético lidere as emissões de gases poluentes (73% do total) e a agricultura fique em segundo (12%), no caso do Rio Grande do Sul essas posições se invertem (agricultura representa 46% das emissões, contra 24% da energia). Em sua previsão, com a expansão de 4,6 milhões de hectares de agricultura de baixo carbono até 2030, o setor deixaria de emitir 75 milhões de toneladas — o equivalente às emissões das cinco maiores cidades do Estado por 10 anos. Ou seja, uma agricultura como parte da solução.
Em outro painel, na CNI/CNA, o presidente da Farsul, Gedeão Silveira Pereira, mediou debate sobre o desafio de reconciliar segurança alimentar e energética segurança climática. A coluna o questionou por que o agro brasileiro tem dificuldades de comunicar essa pujança ao mundo em geral - e ser relevante nas negociações para o clima.
— O agronegócio brasileiro é novo. Viemos alimentando nosso povo e importando alimentos até 1997. Estamos falando de um sucesso empreendedor de 26 anos. Pisamos no mercado internacional a partir de 1997. Agora, em 2023, já somos o maior exportador líquido de alimentos do mundo. Isso faz com que também estejamos aprendendo com a nossa grandeza. Em 2035, o agro brasileiro será a maior agricultura do mundo — disse Gedeão.
Nesta COP28, 134 países — que representam 70% da produção alimentar mundial — assinaram a Declaração dos Emirados sobre Agricultura Sustentável, Sistemas Alimentares Resilientes e Ação Climática. Entre eles o Brasil, China, Estados Unidos e a União Europeia. Na prática, os países signatários comprometem-se a incluir, até 2025, a transformação da agricultura e dos sistemas alimentares no contexto dos esforços climáticos nacionais, incluindo-a nos planos nacionais de adaptação.