Em nota divulgada nesta sexta-feira (10), a Embaixada de Israel no Brasil negou ter tido conhecimento prévio ou organizado encontro com o ex-presidente Jair Bolsonaro, no Congresso, em Brasília, na quinta-feira (9).
Segundo a diplomacia israelense, a reunião teve como intenção mostrar vídeos dos ataques terroristas de 7 de outubro a parlamentares.
"Convidamos parlamentares e apenas parlamentares. A presença do ex-presidente não foi coordenada pela Embaixada de Israel e não era de nosso conhecimento antes do evento, ocorrendo de forma fortuita", diz o texto.
Na nota, a embaixada agradece e cumprimenta o Ministério da Justiça, a Polícia Federal e as autoridades brasileiras pela prisão dos suspeitos ligados ao Hezbollah, na quarta-feira (9), em São Paulo. Também afirma que o governo israelense "jamais criou obstáculos ou preteriu a saída dos brasileiros de Gaza".
Nos últimos dias, uma série de rusgas, turbinadas por manifestações em redes sociais, tumultuou a relação entre Israel e Brasil.
Primeiro foi a demora para a inclusão do grupo de brasileiros na lista para deixar Gaza. Só nesta sexta-feira (10), após quase um mês, os 34 cidadãos foram incluídos na relação de nomes autorizados a sair do território palestino, mesmo assim, não conseguiram fazer a travessia porque a passagem foi fechada ao longo do dia. Ao longo das últimas semanas, surgiram várias teorias conspiratórias que buscavam justificar a demora - a que mais ganhou repercussão era de que os brasileiros estavam sendo preteridos porque o governo brasileiro não considera, oficialmente, o Hamas um grupo terrorista - seguindo a nomenclatura das Nações Unidas.
Depois, surgiram divergências entre autoridades dos dois governos em razão da operação da Polícia Federal (PF). O gabinete do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, afirmou em nota que o Brasil, com apoio de Israel e dos EUA, havia frustrado um atentado terrorista planejado pelo Hezbollah. A declaração foi vista como ingerência interna em assuntos brasileiros, uma vez que a operação foi feita pela PF, sem influência política. A PF diz que as investigações sobre os dois suspeitos presos e a presença de células do Hezbollah são anteriores à guerra. Na quinta-feira (9), o ministro da Justiça, Flávio Dino, afirmou que "se inícios (de terrorismo) existem, é dever da PF investigar para confirmar ou não". E reiterou que os mandados de prisão e busca e apreensão cumpridos pela PF "derivam de decisões do Poder Judiciário do Brasil".
Por fim, ocorreu o encontro entre o embaixador de Israel no Brasil, Daniel Zohar Zonshine, na quinta-feira (9), com o ex-presidente Bolsonaro e parlamentares da oposição a Lula no Congresso. Deputados e senadores da base do governo criticaram o encontro e chegaram a pedir a expulsão do diplomata do país.
A assessoria do ex-presidente já havia também afirmado que o encontro entre os dois foi “fortuito e ocasional”.
Durante seu mandato, Bolsonaro encontrou no governo do premier Netanyahu um forte aliado ideológico. Também se aproximou de Israel para buscar simpatia do eleitor evangélico, em um uso político que, por vezes, constrangeu a comunidade judaica.
Pela cartilha diplomática, não é comum e nem visto com bons olhos um embaixador se encontrar com parlamentares ou grupos políticos. As reuniões devem ser "de Estado", ou seja, com os representantes do governo eleito.
Diante da polêmica, o Itamaraty preferiu não elevar o tom - nem chamar o embaixador israelense para explicações, algo que costuma constranger a nação do representante. O momento é delicado, principalmente com a presença de cidadãos brasileiros ainda em Gaza. Qualquer movimento nesse sentido poderia prejudicar a saída do território conflagrado. Acertou a diplomacia brasileira.
Produção: Kyane Sutelo