Há quem diga que Dubai transformou a COP28, a conferência mundial do clima, que começa nesta quinta-feira (30), em uma mistura de parque da Disney com abertura de Jogos Olímpicos. Isso porque a tecnologia, o visual futurista, o tom lúdico caminham, na sede da reunião de cúpula, a Expo City, ao lado de projeções luminosas na gigantesca esfera do Al Wasl Plaza, que lembra o globo do Epcot Center, de Orlando (Flórida, nos Estados Unidos). Por dentro e por fora, há bandeiras dos países que participam da COP, ouve-se o som da chuva e da floresta e vê-se a esfinge onipresente de Mohamed bin Zayed, o presidente dos Emirados Árabes Unidos.
Toda essa sofisticação, entretanto, oculta uma angústia que paira sobre os acarpetados salões da Blue Zone, o centro nervoso da COP28, onde ocorrem as negociações formais.
Há um entendimento de que essa conferência representa um ponto de inflexão sobre o futuro do planeta. Primeiro porque, nesta esquina da História, o mundo já enfrenta reflexos das mudanças climáticas que os cientistas previam para daqui a alguns anos - o Rio Grande do sul que o diga, mas os sinais estão por toda parte. Aqui, em Dubai, houve enchente até no deserto, recentemente.
Segundo que, desde a adoção do Acordo de Paris, na COP21, em 2015, as conferências seguintes focaram na implementação do objetivo principal: limitar o aumento da temperatura média da Terra a 2°C em relação aos níveis pré-Revolução Industrial - preferencialmente 1,5°.
Em Paris, o acordo foi firmado. Em Katowice (Polônia), sede da COP24, e em Glasgow (Escócia), palco da COP26, foi elaborado o plano de ação. Na COP27, em Sharm el-Sheikh (Egito), começou a implementação. Agora, em Dubai, espera-se a virada de chave: os países não só decidirão sobre quais ações mais fortes devem ser tomadas, mas também dirão “como” realizá-las.
Entre os mais pessimistas, há até quem acredite que já esgotamos as oportunidades. Não seria mais possível mitigar os impactos das mudanças climáticas. Daqui para frente, restaria apenas aos seres humanos reduzir danos.
Países que deveriam estar presentes à COP, porque são os principais poluidores, como China e EUA, não irão comparecer. A ausência parece mais um indício de que a comunidade internacional acredita que o que deveria ter sido feito, foi tentado. Agora, é sofrer as consequências - e desenvolver formas de amenizar seus impactos.
Se evitar o aquecimento global não seria mais possível e estancar o uso de combustíveis fósseis, no curto e médio prazos, algo que soa irreal, para que a COP? Negociadores dizem, por aqui, que ainda algo pelo que brigar. Em 2009, os países desenvolvidos comprometeram-se a doar US$ 100 bilhões por ano, até 2020, aos países em desenvolvimento para os ajudar a reduzir as emissões e a preparar-se para as alterações climáticas. A meta não foi atingida, mas espera-se que seja alcançada em 2023. Se isso ocorrer, já será algo a se comemorar, muito além do que espetáculo de luzes que Dubai preparou para a COp28.