A semana mais tensa em Brasília desde os atos do dia 8 de janeiro começou com tapete vermelho para ditador, passou pelo risco de esfarelamento da estrutura ministerial e terminou com um gesto que remete a um modo de governar adotado pelo último inquilino do Planalto, a prática de misturar o público e o privado. Nada como um final de semana para esfriar a cabeça. Dos três atos da semana horribilis de Lula 3, o tensionamento da relação com o Congresso é, a curto prazo, a que mais preocupa.
No Brasil do "presidencialismo de coalizão", termo cunhado por Sérgio Abranches, um presidente sem maioria no parlamento precisa fazer concessões, distribuindo cargos e verbas. Isso se torna mais evidente diante de um Congresso onde a base de Lula chega a no máximo 222 deputados na Câmara e a 42 no Senado.
Desde a eleição, não é segredo que o Executivo seria refém do parlamento conservador, com uma ala radical, e que acumulou poderes nos últimos anos. O que surpreende é que o presidente, conhecido por ser um exímio negociador, parece ter decidido colocar sua capacidade de articulação mais a serviço da política externa do que do jogo doméstico.
O rosário de reclamações do Congresso é extenso: enquanto Lula recebe Maduro no Planalto com pompa e circunstâncias, seus ministros dão verdadeiros chá de banco a deputados; emendas parlamentares não estão sendo liberadas e muitas nomeações para cargos regionais também não saíram. Mas isso é diagnóstico. É hora do tratamento rápido. Até porque Lula e o PT sabem muito bem do que é capaz um Congresso hostil.
Nessas horas, nada melhor do que a realpolitk: o presidente precisa entrar na articulação, já que não dá a Alexandre Padilha (Relações Institucionais) e Rui Costa (Casa Civil) poder de caneta para dialogar em seu nome. Deve dar celeridade às emendas e ordem para as nomeações de segundo e terceiro escalões. Ao mesmo tempo, é necessário repensar as peças com as quais erigiu seu time. No amplo arco de 14 partidos da coalizão que o ajudou a derrotar Jair Bolsonaro, nem todos se sentem reconhecidos na Esplanada, na qual, o PT é maioria (10). Também precisa reavaliar a participação de algumas legendas, como o União Brasil, que comanda três ministérios, mas se anuncia como "independente" e, no plenário, não entrega votos. Sem falar que os dois casos de suspeitas de corrupção surgidos até agora vieram desses ministérios: Daniela Ribeiro, do Turismo, e Juscelino Filho, das Comunicações.
A sugestão do presidente Arthur Lira (PP-AL), no telefonema dado a Lula nas horas dramáticas que antecederam a votação da MP dos Ministérios, é tentadora: abrir espaço no governo para Republicanos, PP e PL. No caso do PL, de Jair Bolsonaro, soa como absurdo. Mas, no Brasil do tudo pode, não seria de se espantar. Quanto ao Republicanos e ao PP, poderia facilitar a vida do Planalto em votações importantes que virão por aí. O primeiro garantiu ao governo 31 votos (de 38 da bancada) e o segundo, 34 (de 43) na discussão da MP. É menos ideologia e mais pragmatismo que está faltando a Lula.