O presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, emprestou o peso de seu prestígio internacional pela causa de Julian Assange, o fundador do WikiLeaks, que está preso em Londres, no Reino Unido, à espera da extradição para ser julgado nos Estados Unidos por 18 acusações baseadas na Lei de Espionagem, de 1917.
Assange, você deve lembrar, se tornou mundialmente famoso a partir de 2007, quando começou a revelar os podres do governo George W. Bush no Afeganistão e no Iraque.
Naquele ano, um vídeo mostrava helicópteros americanos alvejando, indiscriminadamente, civis no Iraque. Entre 2010 e 2011, sob governo Barack Obama, suas informações, obtidas por meio da ação de hackers, expuseram abusos cometidos em nome da Guerra ao Terror que os Estados Unidos empreenderam após os atentados de 11 de setembro de 2001: um manual de tortura do exército, as torturas em Guantánamo e outras violações de direitos humanos.
O WikiLeaks vazava as informações para um pool de veículos, potências do jornalismo, formada por The Guardian, The New York Times, El País, Le Monde e Der Spiegel, que as publicava. Preso, Assange pagou fiança e se refugiou, entre 2012 e 2019, na embaixada do Equador em Londres, sob asilo do então presidente equatoriano Rafael Correa. Com a ascensão de Lenín Moreno, ele foi expulso - e, obviamente, foi preso pela polícia britânica. Está em uma penitenciária de Belmarsh, na capital britânica, onde aguarda o julgamento do recurso para extradição.
O WikiLeaks iniciou uma campanha global para evitar sua entrega às autoridades americanas, alegando que ele é vítima de perseguição por ter revelado informações de Estado, portanto sigilosas. Se for condenado nos Estados Unidos, pode pegar mais de 175 anos de prisão.
Na segunda-feira (28), Lula recebeu, em Brasília, os emissários de Assange, Kristinn Hrafnsson, editor-chefe do WikiLeaks, e Joseph Farrel, editor do site: Me informaram que a situação de saúde e da luta por liberdade de Julian Assange. Pedi que enviassem minha solidariedade. Que Assange seja solto de sua injusta prisão", postou o presidente eleito.
Na saída do Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), a jornalista Samantha Klein gravou a fala de Kristin.
- Isso foi um compromisso individual e político de Lula. E eu não podia pedir mais que um chefe de Estado me desse esse tipo e declaração e segurança. Então, é extremamente importante ouvir sua voz e estou procurando que se transforme em ação.
Parlamentares da Federação Brasil da Esperança (PT, PC do B e PV) endereçou ao presidente americano, Joe Biden, e à presidente da Câmara americana, Nancy Pelosi, um pedido de libertação de Assange, alegando que sua detenção e julgamento abriria um precedente negativo para a liberdade de imprensa em todo o mundo. As bancadas dos três partidos também se reuniram com os emissários do fundador do WikiLeaks.
Ainda que com alguns métodos questionáveis, WikiLeaks e Assange revolucionaram o trabalho de investigação jornalística, permitindo acesso da imprensa a informações de alto interesse público e que coloca em xeque as ações de governos. O princípio da organização é oferecer acesso livre a importantes e confidenciais documentos online, sem identificar as fontes. Ao expor os segredos de Estado, os métodos de WikiLeaks, enviaram uma mensagem poderosa de que nenhuma autoridade poderia manter sua informação sob controle na era da internet. No mesmo dia em que Lula recebeu os emissários de Assange, os cinco veículos de comunicação que publicaram as informações da organização publicaram cartas em prol da libertação do fundador.
Em tempo: duas ponderações sobre o apoio de Lula. A primeira é sobre o risco que sempre existe de um governante ou futuro governante expressar opinião sobre assuntos internos de outro Estado, o que é considerado pouco cordial nas relações diplomáticas. Segundo, nobre o futuro presidente defender a liberdade de expressão e de imprensa, mas essa posição não condiz com a defesa da regulação dos veículos de comunicação, antiga agenda petista que voltará à pauta com o novo governo.