O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, fez um discurso para público interno, nesta segunda-feira (16), mais de 24 horas depois da tomada de Cabul pelo Talibã, no Afeganistão. Lavou as mãos ao culpar o governo deposto pela milícia fundamentalista pela queda. E, indiretamente, inaugurou uma versão democrata do slogan de sucesso do republicano Donald Trump: o "America First".
Se o importante são os interesses americanos, o que as tropas americanas fazem a milhares de quilômetros de distância em uma guerra que não era mais deles? Foi o que, em outras palavras, Biden afirmou, ao destacar que o objetivo era caçar Osama bin Laden, não erigir um Estado no Afeganistão.
Com isso, ele jogou por terra todo o discurso dos neoconservadores americanos, os antigos falcões da Casa Branca, que desejavam expandir a democracia aos confins da Terra. Sem mais lápides nos cemitérios de Washington.
Biden, que diga-se de passagem já era a favor da retirada do Afeganistão desde o tempo em que era vice de Barack Obama, minimizou os erros da falta de planejamento, tergiversou sobre as cenas dramáticas de Cabul nas últimas 24 horas e, sobretudo, tentou surfar na popularidade. Como a China, a questão do Afeganistão é uma das poucas unanimidades na polarizada sociedade americana. Mais de dois terços dos americanos são a favor da saída: 81% entre os democratas, 61% entre os republicanos e 77% entre os que se dizem independentes.
Nisso, Biden se igualou a Trump, aliás, o único presidente que conseguiu tirar do papel a ideia pouco cômoda de saída das tropas - ainda que de forma ingênua ao confiar nos talibãs, deixando uma herança maldita para o sucessor.
O interesse americano não é mais gastar bilhões de dólares nas guerras inacabadas do Oriente Médio e Ásia Central. Em resumo, a guerra civil, as disputas internas, o Estado que os americanos não conseguiram fortalecer, forças armadas débeis, direitos humanos, repressão a mulheres, tudo isso é, agora, problema dos afegãos.
O inimigo americano agora é outro, a China.