Três episódios - dois deles na agenda e um que tomou de assalto a política americana no fim de semana - colocam os próximos dias entre os mais importantes desde a eleição de 3 de novembro nos Estados Unidos.
Por si, só a batalha da Geórgia, nesta terça-feira (5), já seria sozinha suficiente para definir boa parte dos rumos da administração Joe Biden-Kamala Harris, que começa no próximo dia 20. O Estado, um dos que ajudou a definir a vitória da chapa democrata em 3 de novembro, vai realizar segundo turno para decidir as duas vagas no Senado. Isso porque nenhum dos candidatos obteve 50% dos votos mais um no primeiro turno (característica da legislação eleitoral naquele Estado).
Os dois senadores republicanos tentam garantir suas reeleições. O republicano David Perdue enfrenta Jon Ossoff, figura em ascensão do Partido Democrata. Já Kelly Loeffler é desafiada pelo reverendo Raphael Warnock, que ocupa o cargo que um dia foi de Martin Luther King na Igreja Batista Ebenézer.
As duas vagas no Senado vão definir se a Casa seguirá com maioria republicana (o que complicará a vida de Biden e Kamala) ou se os democratas conseguirão ao menos empatar. Dos 98 senadores já eleitos, 50 são republicanos, 46, democratas e dois independentes (que votam com os democratas). Assim, se Ossoff e Warnock tirarem as cadeiras de Perdue e Kelly, o partido do presidente chegaria a 48 (50 em uma votação, contando os independentes). Como nos EUA, o cargo de vice-presidente do Senado é exercido pela vice-presidente do país, Kamla Harris (democrata) teria o voto de minerva. Na prática, isso significaria que os democratas teriam o controle da Casa. Eles já mantiveram a maioria na Câmara.
O Estado, no entanto, se tornou ainda mais relevante no final de semana, quando veio à tona a gravação de uma conversa na qual o presidente Donald Trump tenta convencer o secretário de Estado da Geórgia, Brad Raffensperger, companheiro de partido, a "encontrar 11.780 votos", que lhe dariam a vitória sobre Biden naquela unidade da federação.
- O povo da Geórgia está com raiva, o povo do país está com raíva. Não há nada de errado em dizer, você sabe, que você recalculou (os resultados) - diz Trump, na gravação obtida e revelada pelo jornal The Washington Post.
Essa é, até agora, a evidência mais concreta de que Trump estaria tentando alterar o resultado da eleição de 3 de novembro. Até agora, ele não reconheceu a derrota para Biden, mesmo depois de o colégio eleitoral ter confirmado a vitória do democrata por 306 votos contra 232 de Trump. Mesmo que o atual presidente conseguisse, por alguma manobra, alterar o resultado na Geórgia e levar os 16 delegados a que aquele Estado tem direito, isso não lhe garantiria uma virada - ele chegaria a no máximo 248 (Biden ficaria com 290 e ainda assim seria o ganhador).
Para completar, na quarta-feira (6), o Congresso deve ratificar a decisão do colégio eleitoral, dando a vitória a Biden. Trata-se da última etapa do processo eleitoral antes da posse da chapa democrata.