Um dia depois da megaexplosão de terça-feira (4) em Beirute, as autoridades libanesas ainda se perguntam qual teria sido o estopim da tragédia. Um incêndio inicial? Um atentado?
Pelo menos cem pessoas morreram e mais de 4 mil ficaram feridas, segundo balanço desta quarta-feira (5).
Veja o que se sabe até o momento sobre o episódio que impressionou o mundo pela violência e devastação.
O que causou a explosão?
Segundo o presidente do Líbano, Michel Aoun, a explosão pode ter sido causada por uma substância chamada nitrato de amônio. Estavam estocados nos armazéns do porto cerca de 2.750 toneladas do produto. O primeiro-ministro do país, Hassan Diab, afirmou que o composto estaria no local desde 2014. O governo investiga como essa quantidade de material, potencialmente perigoso, estava armazenado sem a devida segurança.
Foi atentado?
Não se sabe até o momento. O que se sabe é que o nitrato de amônio não explode sozinho. Logo, pode ter sido causado pelo incêndio de menor proporções que ocorria antes da megaexplosão no local. Esse foco pode ter sido provocado intencionalmente por alguém ou por algum grupo extremista, por exemplo.
O Conselho Supremo de Defesa do Líbano afirmou que os responsáveis irão enfrentar "punição máxima". O nitrato de amônio já foi utilizado em um dos atentados mais devastadores do século 20, em Oklahoma City - um dos piores da história americana, antes do 11 de setembro de 2001.
Dois extremistas americanos colocaram uma van carregada com o produto em frente a um prédio federal em 1995. Cento e sessenta e oito pessoas morreram. O atentado foi arquitetado por Timothy McVeigh, condenado à morte e executado em 2001.
O que é nitrato de amônio?
O nitrato de amônio é uma substância usada como fertilizante e em materiais explosivos, como bombas. No uso civil, é uma das substâncias mais utilizadas na agricultura e, se armazenado corretamente, não oferece riscos. Também não explode sozinho. É preciso um gatilho, que, até o momento, não se sabe qual foi.
O nitrato de amônio já provocou explosões trágicas e acidentais. Um dos episódios mais trágicos ocorreu em 1947 no Texas, Estados Unidos. Um navio que transportava 2 mil toneladas do produto explodiu, matando 581 pessoas. No início do século, em 1921, uma usina explodiu em Oppau, na Alemanha, matando 561 pessoas. Bem mais recente, em 2013, 300 toneladas de nitrato de amônio armazenadas em um hangar da usina química AZF, em Toulouse, explodiram, matando 31 pessoas. A explosão pode ser ouvida a 80 quilômetros de distância.
A instabilidade política pode ter contribuído?
O Líbano é um país altamente instável, caixa de ressonância dos conflitos e tensões do Oriente Médio. Antes de a pandemia tomar o noticiário internacional, eram manifestações nas ruas de vários países que chamavam a atenção como fenômeno social. Havia manifestações por mudanças políticas em varias nações da América Latina e também no Oriente Médio. No Líbano, a população exigia a queda do governo e reformas capazes de acabar com o problema histórico do país, onde o poder é exercido por castas religiosas e não por autoridades técnicas. O país enfrenta um dos momentos mais críticos do ponto de vista econômico. Além disso, vive em tensão com Israel, ao Sul, considerado inimigo. À Leste e Norte, faz fronteira com a Síria, por onde entraram milhares de refugiados do conflito vizinho, aprofundando a crise social.
Nos últimos dias, o cenário político está agitado porque, na sexta-feira (7) deve ser anunciado o veredicto sobre a morte do ex-primeiro-ministro Hafik Hariri, em 2005. Quatro homens do Hezbollah, milícia que exerce poder paralelo no país, são réus. Mas o julgamento ocorre em Haia, à revelia, porque os acusados não foram entregues pelo grupo. Apesar do aspecto simbólico do julgamento, com apoio das Nações Unidas, a condenação, provavelmente à prisão perpétua, terá nenhum efeito prático. Os quatro seguem soltos.