Os Estados Unidos superaram nesta quinta-feira (23) os 4 milhões de infectados por coronavírus, segundo a Universidade Johns Hopkins. Além da marca emblemática, preocupa a aceleração da covid-19 no país. A nação levou quase cem dias para contar seu primeiro milhão, entre 21 de janeiro e 28 de abril. Mas apenas 15 dias foram necessários para subir de 3 milhões, em 8 de julho, para 4 milhões, nesta quinta.
Chama a atenção no mapa da pandemia em território americano a tendência semelhante ao comportamento do vírus em outros países: nos Estados Unidos, a covid-19 chegou em peso primeiro nas metrópoles: por Nova York, capital informal do mundo, um dos maiores hubs internacionais da aviação civil.
Depois, a doença se disseminou para o interior do país. Atualmente, a Flórida é um dos principais epicentros.
É por aí que podemos começar a relacionar a pandemia com a eleição em 3 de novembro. O Estado é um dos chamados swing states, os campos de batalha que definem o pleito. Nenhum presidente nas últimas décadas chegou à Casa Branca sem vencer na Flórida. Como o Estado com grande quantidade de população de origem hispânica (decisivos no voto) irá se comportar diante do acúmulo de doentes e de mortos é uma das incógnitas.
A três meses da disputa, o cenário é incerto do ponto de vista epidemiológico em vários Estados. Em 41 dos 50 territórios, o uso de máscaras é obrigatório. Mas medidas de distanciamento social não têm a mesma abrangência. Como no Brasil, os EUA adotaram diferentes estratégias contra a pandemia, em uma briga entre o governo central e os governadores - em geral, os republicanos sendo menos restritivos (na Flórida, por exemplo) do que os democratas (Nova York, por exemplo).
O presidente Donald Trump mudou de postura nas últimas semanas, passando a sugerir que as pessoas utilizem o equipamento de proteção facial, na contramão do que dizia anteriormente. O avanço da pandemia, que já atinge as estratégias de campanha do republicano e do rival democrata, Joe Biden, deve obrigar novas mudanças de rumo nas próximas semanas. Tanto democratas quanto republicanos mudaram a agenda das convenções nacionais, eventos que duram quatro dias e costumam servir para alavancar candidaturas graças à exposição midiática. Os primeiros adiaram para 17 de agosto. Os segundos, inicialmente, limitaram o número de participantes a 336. Mas, nesta quinta-feira (23), Trump anunciou o cancelamento da convenção, que ocorreria na Flórida a partir de 27 de agosto. O argumento: "proteger o povo americano". Não foi anunciada nova data.
Na maioria das pesquisas nacionais, Biden vence Trump, segundo Real Clear Politics. Mas, como nos EUA quem define o presidente é o colégio eleitoral, é importante observar o desempenho dos competidores nos Estados. O cenário, embora mais acirrado quando analisado por essa perspectiva, não muda o resultado final: Biden vence, ainda segundo os levantamentos, na maioria dos Estados-chave. Trump enfrenta problemas nos Estados nos quais ganhou em 2016: aparece empatado tecnicamente com Biden no Arizona e no Texas e caiu na Flórida. Chama a atenção, como já comentei aqui, a migração do eleitorado branco, sem formação universitária e idoso, tradicional votante republicano, para as fileiras democratas.
A covid-19 deve alterar profundamente a estratégia de Trump, um político acostumado a tirar proveito de comícios graças a sua capacidade de contato com o público. Em 2008, Barack Obama inaugurou a era das campanhas de massa pela internet e redes sociais nos EUA. Em 2012 e 2016, elas tiveram papel fundamental, mas os eventos presenciais ainda eram o padrão. Neste 2020 da pandemia, ganham protagonismo sem precedentes. Sem elas, nenhum candidato fará o eleitor deixar sua casa para se registrar para votar - e muito menos para comparecer às urnas em 3 de novembro.