Cientistas brasileiros decidiram cancelar todas as pesquisas em campo na Antártica devido à pandemia. O anúncio, feito nesta segunda-feira (13) por meio de nota assinada pelos coordenadores de 20 projetos e do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia da Criosfera (INCT da Criosfera), leva em conta o risco para a saúde de pesquisadores e pessoal de apoio e a necessidade de quarentenas médicas antes e depois da viagem à região. A Antártica é o único continente sem registro até agora de covid-19.
As pesquisas em campo costumam começar no chamado verão antártico, entre dezembro e março. Esses trabalhos ocorrem no navio Almirante Maximiano, da Marinha brasileira, na Estação Comandante Ferraz, reinaugurada em janeiro, e em acampamentos na costa e interior do continente. Normalmente, os pesquisadores ficam confinados em ambientes fechados devido ao frio extremo, o que, pode favorecer o contágio pelo coronavírus.
– Como biólogo e microbiologista reforço minha grande preocupação com a questão sanitária referente à covid-19. Vale ressaltar que, caso algum pesquisador ou militar sofra com os efeitos danosos da covid-19 nos navios ou na estação antártica, seria muito difícil transportá-lo para o Chile ou Brasil para um tratamento adequado, considerando que nos navios e na estação antártica não há ventiladores mecânicos e centros de tratamento intensivos – afirma o professor Luiz Henrique Rosa, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Na nota, os cientistas alertam também para a possibilidade de transmissão do vírus para outras espécies da fauna antártica.
– Toda a comunidade antártica está mobilizada para evitar a contaminação do continente pela covid-19. O Scar, o comitê internacional para ciência antártica, cancelou todos os encontros presenciais até 2021. O Scar aprovou na semana passada projeto para avaliação dos riscos e consequências que a pandemia traz à ciência antártica, aos pesquisadores, aos programas antárticos, à fauna e ao turismo – explica o glaciologista Jefferson Simões, da UFRGS e vice-presidente do Scientific Committee on Antártica Research (Scar).
A decisão brasileira segue o outros programas, como os de Austrália, Estados Unidos, Nova Zelândia e Reino Unido, que cancelaram a maior parte das expedições científicas programadas para o próximo verão. As pesquisas laboratoriais (por satélite e reuniões cientificas online) continuarão. Os pesquisadores esperam retomar as viagens no verão 2021/2022, quando acreditam que a pandemia terá passado ou uma vacina será disponibilizada em larga escala.