Entidades judaicas nacionais e internacionais criticaram comparação feita pelo chanceler Ernesto Araújo entre o isolamento social para conter o coronavírus e os campos de concentração nazistas que mataram milhões de judeus.
Em nota, o Instituto Brasil-Israel disse que, ao colocar os campos de concentração nesses termos, Araújo "anula e relativiza a memória do Holocausto. E ainda pior, acaba por reproduzir a lógica nazista: transformar os campos da morte em fábricas do esquecimento". A entidade afirmou: "Impressiona o uso excessivo e absurdo que membros do atual governo brasileiro fazem do nazismo e do Holocausto. Desde as afirmações do atual presidente de que o nazismo seria de esquerda (feitas em frente ao Museu do Holocausto, em Jerusalém) até a reprodução do discurso do ministro da propaganda nazista pelo ex-secretário especial de cultura, os absurdos se multiplicam".
À coluna, o presidente da Federação Israelita do Rio Grande do Sul (FIRS), Sebastian Watenberg, afirmou:
- A declaração foi absolutamente inoportuna e infeliz e merece retratação. De nada adianta o ministro fazer um tuíte destacando a relação do governo com Israel e com a comunidade judaica. Saudamos essa atuação recente do Itamaraty, mas não se presta, por si só, como um pedido de desculpas.
Na terça-feira, também o Comitê Judeu Americano exigiu o pedido de desculpas do ministro. "Essa analogia usada por Ernesto Araújo é profundamente ofensiva e totalmente inapropriada. Ele deve se desculpar imediatamente", escreveu no Twitter.
Araújo ignorou a cobrança dos líderes judaicos por um pedido de desculpas e criticou o jornal The Times of Israel por, segundo o chanceler, fazer uma "crítica injusta e completamente equivocada" do que ele escreveu em seu blog pessoal.
"Orgulho-me de minha postura de denunciar e combater o antissemitismo e de meu trabalho pela construção da relação de profunda amizade e parceria desejada pelos povos do Brasil e de Israel", escreveu o ministro, ao se defender.
Sem mencionar o comitê e a cobrança pelo pedido de desculpas, ele disse que foi o filósofo e psicanalista esloveno Slavoj Zizek quem trouxe os "campos de concentração como referência" ao falar da "sociedade totalitária que, em sua teoria, pode emergir da pandemia". Em texto publicado na semana passada em seu blog pessoal, Araújo afirma, entre outros pontos, que a pandemia de coronavírus faz parte de um "projeto globalista" que é um "novo caminho" e um "estágio preparatório ao comunismo".
"No meu artigo, chamei a atenção, com indignação, para o trecho do livro em que Zizek banaliza o holocausto, quando ele elogia o lema colocado à porta de Auschwitz, 'Arbeit Macht Frei' (o trabalho liberta)", escreveu Araújo.
O chanceler acusou o Times of Israel de ter feito uma "leitura distorcida" de seu artigo.