Marcelo Rebello (foto), presidente da Associação Brasileira de Empresas e Profissionais Evangélicos (Abrepe), que reúne 600 associados, vê com otimismo a parceria entre os governos brasileiro e israelense, mas critica a abertura de um escritório de negócios em Jerusalém, como anunciado no domingo pelo presidente Jair Bolsonaro.
O empresário, que também é teólogo evangélico, costuma liderar viagens de delegações para Israel em busca de parcerias nas áreas de tecnologia e agronegócio. Segundo ele, como a embaixada brasileira em Tel-Aviv está localizada a apenas 65 quilômetros da Cidade Sagrada, onde ficará o escritório, os negócios continuarão sendo tratados na representação diplomática. A seguir, os principais trechos da entrevista.
Um escritório de negócios brasileiro em Jerusalém fará diferença?
Vejo essa questão mais como política do que empresarial. Todas as tratativas que nós, empresários brasileiros, fazemos com o pessoal de Israel são pela embaixada. Como o escritório vai ficar a 65 quilômetros de distância da embaixada em Tel-Aviv, não vejo muita funcionalidade. Ele (Bolsonaro) utilizou mais como expediente político para agradar a lideranças evangélicas, Donald Trump e Israel. Achou um meio-termo entre não mudar a embaixada e mudá-la para Jerusalém. A retaliação do povo árabe é grande, em termos econômicos, teria um impacto deixar de fornecer carne a eles.
E agradou aos evangélicos?
A aproximação de Israel com o Brasil sempre é bem-vinda por menor que seja a ação. Falando de fé e sua origem, é relevante por menor que seja. (O escritório) Foi um paliativo para poder agradar à frente evangélica. Não existe furor, efervescência com relação a isso. Comemorou-se de forma tímida, como pequeno avanço, mas o que o evangélico quer mesmo é que mude a embaixada (brasileira). Seria até uma forma de abreviar o Apocalipse para Jesus voltar mais rápido. Em termos escatológicos seria isso. A grande luta dos evangélicos é haver o cumprimento das profecias do Apocalipse, com a aproximação entre Israel e os países ocidentais.
Sendo evangélico, pessoalmente, para o senhor esse escritório de negócios é importante?Em termos de economia, de aproximação empresarial, não vejo muita relevância. É uma mudança mais política e religiosa, do que propriamente empresarial. Ter um escritório lá, que vai trocar tecnologia, agronegócio é bom? Sempre é bom. Mas, na prática, as coisas vão continuar acontecendo entre Tel-Aviv-Brasília, Tel-Aviv-São Paulo, Tel-Aviv Rio de Janeiro. Não vai haver essa mudança. Vão colocar a bandeira do Brasil lá, mas, operacionalmente, as decisões vão ser tomadas em Tel-Aviv.
Do ponto de vista religioso, qual a importância de mudar a embaixada brasileira para Jerusalém?
Escatologia é a ciência das últimas coisas, da Teologia e da Filosofia. Dentro desse contexto, é óbvio que a coisa que mais o evangélico almeja é que Jesus Cristo volte o mais rapidamente possível. Nessa segunda vinda de Cristo, os judeus, segundo as profecias, vão se converter, vê-lo como o Messias prometido. Então, acontecerá a integração do judaísmo com o cristianismo. Isso é almejado por todos nós, cristãos, seja católico ou evangélico. Todas as correntes almejam por esse momento. Religiosamente, é muito necessário (que Jerusalém esteja sob controle dos judeus). Agora, represento empresários evangélicos, nesse contexto empresarial não vejo necessidade nem praticidade nisso (mudança da embaixada). Pelo contrário, pode haver retaliação, boicote de alguns países. Comercialmente, não é muito bom. Mas, religiosamente, é bom. Se eu for pensar como empresário, não sou muito a favor. Como teólogo, sou a favor.
E essa aproximação entre Brasil e Israel, do ponto de vista empresarial, como pode abrir portas para vocês, empresários evangélicos?
A visão é positiva. A aproximação com países mais desenvolvidos em determinados nichos de mercado, sempre é muito produtiva. Hoje, o Brasil necessita de segurança. Estamos vivendo um momento de insegurança pública e privada. Você ter um estreitamento com o país que, sem dúvida, detém a melhor tecnologia em segurança e cibersegurança é muito positivo. Espero que surjam bons negócios e que colabore para melhorar nossa sociedade. No agronegócio também. Há muitas tecnologias de irrigação, de plantio e de cultivo que os israelenses dominam e a gente, não. Seria muito legal, por exemplo, para o Nordeste, que é mais árido, implantar um sistema de irrigação como há no deserto de Israel. Seria maravilhoso.