O desmantelamento do grupo terrorista basco ETA, que durante seus 59 anos matou 853 pessoas, sequestrou 79 e cujos atentados deixaram 6.389 feridos, ocorre em um momento emblemático do continente europeu. Não deixa de ser irônico o fim da organização em um estágio histórico da sociedade de um aparente retorno à aldeia, em que processos separatistas afloram na Catalunha, Flandres, Escócia e outras regiões, fragilizando ainda mais a União Europeia já abalada pelo Brexit.
O ETA é o último grupo terrorista europeu. Mas outra ironia é que o terrorismo é hoje uma ameaça talvez ainda mais presente do que nas últimas cinco décadas de luta separatista. Agora, insuflado por agentes externos. O terror está no interior do continente porque atentados continuam ocorrendo no coração europeu, agora não mais por mãos de separatistas bascos ou pelo IRA (Exército Republicano Irlanzdês), mas pela ação de terroristas avulsos identificados com o extremismo islâmico, a exemplo de Nice, Berlim, Londres, Barcelona, que escolheram atropelamentos em massa como modus operandi.
O comunicado final do ETA foi lido em espanhol por Josu Urrutikoetxea, mais conhecido como Josu Ternera, histórico dirigente e participante do processo de diálogo mantido com o então primeiro-ministro espanhol José Luis Rodríguez Zapatero, em 2006. Josu Ternera está desaparecido e é procurado pela Justiça espanhola.
Tanto no País Basco quanto na Irlanda, o enfraquecimento dos grupos armados foi acompanhado de um lento processo político que permitiu aos menos radicais sair da clandestinidade e entrar no espaço público (com o Sinn Fein na Irlanda e Batasuna no País Basco), enquanto os mais radicais purgavam duras penas.
Em 10 de abril de 1998, as forças políticas na Irlanda do Norte colocaram um ponto final, ao assinar o Acordo de Sexta-feira Santa, a um conflito que arrasou a ilha por 30 anos e deixou quase 3.500 mortos.
O grupo tomou a ponderada decisão de abandonar as armas em troca da política em 2011, algo que as Farc também fizeram por aqui, na América Latina, meses atrás. Mas o desmantelamento do grupo espanhol não significa nem o fim do terrorismo nem das ambições separatistas europeias.