Ao anunciar a sua dissolução nesta quinta-feira (3), o grupo separatista basco ETA acabou de forma definitiva com a luta armada como opção política na Europa ocidental, ressaltam especialistas.
A Fração do Exército Vermelho na Alemanha, o Exército Republicano Irlandês (IRA) na Irlanda do Norte, as Brigadas Vermelhas na Itália, a Frente de Libertação Nacional da Córsega, e agora o ETA na Espanha: a história desses grupos que tentaram usar as armas para alcançar a independência, vencer regimes, ou forçá-los a realizar grandes concessões, a compõem como uma sucessão de fracassos.
"O recurso do terrorismo sempre está condenado ao fracasso", assegurou à AFP Jacco Pekelder, professor da Universidade de Utrecht, na Holanda, especialista em História da Violência Política. Isso se deve por ser "obra de uma pequena minoria que entra em guerra com o Estado".
"Usam o terrorismo porque não conseguem obter apoio de suas próprias comunidades", acrescenta. "Estão distantes da maioria das pessoas que pretendem representar ou defender".
A fantasia de que as ações armadas motivariam uma repressão maciça do Estado, abrindo os olhos das "massas" e fazendo-lhes ficar do lado dos rebeldes, não foi além disso - uma fantasia -, assinalam os especialistas.
Pelo contrário, as operações policiais, as campanhas de repressão, as legislações de exceção, os chamados à colaboração contra os grupos armados e o reforço dos serviços de Inteligência foram bem recebidos e apoiados durante a maior parte do tempo pela opinião pública, atingida pela violência, pelas mortes e pelos atentados.
- 'Mortos por nada' -
"Nem na Europa, nem em outros lugares existem terroristas que tenham alcançado seus objetivos políticos", considera Pascal Boniface, diretor do Instituto de Relações Internacionais e Estratégicas (IRIS), "além, talvez, do extremista judeu que assassinou Isaac Rabin, que queria descarrilar o processo de paz e conseguiu".
"O terrorismo tem sucesso em nível midiático, deixa marcas, mas fracassa politicamente. É uma constante", acrescenta.
Para o espanhol Diego Muro, do Centro Handa para o Estudo do Terrorismo e da Violência Política da Universidade de St. Andrews, na Escócia, "o fim do ETA acaba com a onda etno-nacionalista de terrorismo que começou com a violência anticolonialista da segunda metade do século XX".
"A violência indiscriminada demonstrou ser tão ineficaz quanto ir em detrimento da causa nacionalista. Como sugerem campanhas separatistas pacíficas de toda a Europa, o tempo no qual usavam métodos coercitivos para influenciar nas políticas públicas claramente ficou para trás", acrescenta.
Na Europa, as campanhas antiterroristas funcionaram melhor nos lugares onde as autoridades tiveram a perspicácia de oferecer vias de saída aos militantes arrependidos, ou desestimulados, e a seus círculos.
"Quando a violência política fracassa, os terroristas precisam encontrar uma saída digna a sua estratégia violenta", explica Jacco Pekelder. "É um processo longo e difícil, podem considerar que é uma derrota dura, que toda a sua vida se baseou em uma mentira, que os que morreram o fizeram por nada".
Tanto no País Basco como na Irlanda, o enfraquecimento dos grupos armados esteve acompanhado de um lento processo político que permitiu aos menos radicais sair da clandestinidade e entrar no espaço público, enquanto os mais radicais purgavam duras penas.
Além disso, os sucessivos fracassos dos movimentos armados de diferentes países frente a políticas cada vez mais eficazes e a uma cooperação europeia reforçada, fez outros grupos e seus apoiadores pacíficos tomarem consciência de que estavam encalhando.
"Os grupos terroristas tentam aprender uns com os outros", diz Diego Muro. "Houve contatos entre ETA e IRA, entre Batasuna e Sinn Fein. Os bascos tentaram copiar as táticas e estratégias do movimento republicano irlandês".
Em 10 de abril de 1998, as forças políticas na Irlanda do Norte colocaram um ponto final, ao assinar o "Acordo de Sexta-feira Santa", a um conflito que arrasou a ilha por 30 anos e deixou quase 3.500 mortos.
O ETA foi fundado em 1959, durante a ditadura de Franco, e são atribuídos ao grupo pelo menos 829 mortes em assassinatos e atentados com bombas em Espanha e França.
* AFP