Um ataque à imprensa é um ataque à democracia. Em Porto Alegre, Curitiba, Paris, Bagdá ou Cabul. Quando se tenta calar a imprensa, por ameaças, tiros ou bombas, quem perde é a sociedade. A metáfora é antiga, mas nem por isso menos atual: quando atacam um jornalista, governos autoritários, grupos partidários ou terroristas miram o mensageiro. Querem neutralizar a informação, atingindo, quase sempre de forma covarde, quem está lá simplesmente com a missão de transmiti-la. Violam, em efeito cascata, o direito inalienável do cidadão de tomar conhecimento do fato.
É claro que um jornalista que trabalha em uma zona de guerra tem a noção exata dos riscos que corre. Louco? Não. Ninguém vai para a guerra para morrer — nem soldado nem jornalista. Identifico-me muito com esse sentimento pelas coberturas que fiz pela RBS no Líbano, na Líbia, na Síria ou Iraque. Deixamos nossas famílias, amigos, o conforto de nossos lares para viajar até um conflito porque acreditamos que, como diz o mestre José Hamilton Ribeiro, "guerra é ruim, mas sem jornalista é muito pior". Sem repórteres, fotógrafos e cinegrafistas para testemunhar as crueldades da desgraça da guerra o e denunciá-la, o ser humano sente-se livre para exercer toda a bestialidade de seu interior. My Lai, Dresden, Hiroshima ou Nagasaki não deixaram de acontecer por conta da presença da imprensa. Mas, sem jornalistas para denunciar alguns dos piores massacres do século 20, a chance de que voltem a se repetir é ainda maior.
A morte de 10 colegas jornalistas, entre as 31 vítimas fatais do ataque a Cabul, é emblemática porque revela um ataque deliberado contra o mensageiro. Algo cada vez mais comum, como o colega Humberto Trezzi, também experiente em zonas de conflito, mostrou em reportagem recente sobre o regime sírio.
No caso afegão, o motociclista que se explodiu fazia-se passar por fotógrafo. Estava com uma câmera a bordo de uma motocicleta. Como o objetivo dessas organizações terroristas é matar o maior número de pessoas em um atentado, a tática é normalmente a seguinte: comete-se um primeiro ataque, em geral de menor amplitude. Há algumas mortes, mas pouca destruição. Com a primeira explosão, muitas pessoas correm até o local para socorrer as vítimas – equipes de resgate, curiosos, parentes das vítimas e, por dever do ofício, nós, jornalistas. É quando explode a segunda bomba, muito mais devastadora. Trata-se de um modus operandi covarde, mas infelizmente conhecido, do terrorismo internacional.