É tradição, desde a fundação da Organização das Nações Unidas (ONU), em 1945, o Brasil abrir o encontro da Assembleia Geral, quando os líderes das 193 nações se reúnem, em Nova York, para debater os principais temas globais. A história oficial diz tratar-se de uma deferência ao país de Osvaldo Aranha, diplomata gaúcho que contribuiu para a formação da entidade. Mas não é de hoje que alguns comparam o discurso inicial no mármore verde da Assembleia Geral a um grande show de rock, em que músicos menos conhecidos são convidados a abrir o espetáculo. Falar primeiro seria um aperitivo para os astros principais.
Nesta terça-feira, o presidente Michel Temer cumprirá a tradição e será o primeiro a falar. Mas os olhos do mundo estarão voltados para quem vem depois: Donald Trump. Seu discurso nesta terça será mais importante do que sobre o Estado da União, em 1º de março. Se naquele falou para público interno, em um Congresso onde os republicanos são maioria, agora terá pela frente uma plateia externa, em parte cética, líderes de um planeta em convulsão: mais quente, mais perigoso e mais exposto a um potencial conflito nuclear.
Nos bastidores da Casa Branca, sabe-se que Trump põe a diplomacia em segundo plano. Passa por cima do Departamento de Estado, pouco lê relatórios de inteligência e considera a ONU um clube no qual as pessoas se “reúnem, conversam e passam bons momentos”, conforme afirmou na campanha eleitoral. Seu governo pressionou, e a entidade cortou, em junho, US$ 600 milhões destinados a operações de paz, o que levou a encerramento das participações no Haiti e na Costa do Marfim. Sem os EUA, a ONU quebra. O governo americano contribui com 28,5% do orçamento das operações de paz, de US$ 7,3 bilhões, e com 22% dos US$ 5,4 bilhões totais do órgão.
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Coreia do Norte, caçada a remanescentes do Estado Islâmico na Síria, aquecimento global são assuntos que põem em xeque o isolacionismo americano porque jogam com os interesses de outras nações. Uma decisão unilateral contra os norte-coreanos eleva o risco de um conflito de grandes proporções, que tragaria China, Rússia, Japão e Coreia do Sul para a crise. A eliminação do EI só ocorrerá com colaboração internacional. E o combate às mudanças climáticas é impossível sem comprometimento global.
Como Trump irá equilibrar seu mantra “America first” diante de uma ONU cujo pilar principal é o multilateralismo é uma das perguntas que só serão respondidas na manhã desta terça-feira.