Nicolás Maduro não é Hugo Chávez.
Não tem o carisma de Chávez, sua inteligência, seu apelo popular (venceu a eleição em 2013 por apenas 50,8% dos votos), e, mais importante que tudo isso, não é militar.
Ex-maquinista do metrô de Caracas, oriundo do sindicalismo do setor de transporte, o atual presidente venezuelano não tem a mesma ligação carnal com as forças armadas que o padrinho e tenente-coronel Chávez.
As forças armadas sustentam o que de pior acontece na Venezuela nas últimas décadas. Elas serão o fiel da balança neste domingo. Vão ditar, mais uma vez, o futuro do país.
Chávez já fez o que Maduro quer fazer - e de forma até menos democrática, em parte por culpa da própria oposição, que fugiu da raia, se absteve e abriu caminho para o bolivarianismo. Em 1999, quando assumiu a presidência, Chávez enfiou goela abaixo dos venezuelanos uma nova Constituição, que estendia seu mandato, permitia que fechasse o Congresso, mudava o nome do país para República Bolivariana da Venezuela e alterava até fuso-horário. Quando estive em Caracas, em 2007, cada venezuelano era obrigado a carregar no bolso um exemplar em miniatura da carta magna vendida em camelôs.
Agora, Maduro quer uma Constituinte para ampliar ainda mais seus poderes. Mas, volto a dizer, ele não é Chávez. E, mesmo que não se saiba exatamente qual seu real apoio no cerne das forças armadas, episódios como o do policial que roubou um helicóptero da corporação e sobrevoou o Palácio de Miraflores com cartazes de protesto revelaram fissuras na caserna.
Chávez era um animal político-militar. Qual líder derrubado por um golpe seria capaz de retornar 48 horas depois nos braços do povo? Poucos em nossa história populista latino-americana. Chávez o fez, entre 11 e 13 de abril de 2002.
O futuro da Venezuela depois de domingo é incerto, provável é a ditadura escancarada. Mas uma coisa é certa: como Maduro não é Chávez, se sair do Palácio de Miraflores, não voltará.