Se sanções econômicas funcionassem para derrubar regimes autoritários, os governos de Saddam Hussein no Iraque, de Bashar al-Assad na Síria e de Muamar Kadafi na Líbia teriam ruído muito antes que bombas começassem a cair sobre seus territórios.
A história recente comprova que os únicos castigados por punições desse tipo são os cidadãos comuns, que morrem de fome, enquanto seus líderes, encastelados no poder, continuam nadando em piscinas de palácios com torneiras banhadas a ouro. Antes da consumação do xeque-mate de Nicolás Maduro sobre a democracia, o governo Donald Trump chegou a cogitar a adoção de sanções mais abrangentes contra o governo latino-americano, suspendendo a importação de petróleo ou proibindo que empresas americanas atuem no setor petrolífero venezuelano.
Medidas assim não funcionaram com Saddam, Al-Assad ou Kadafi. Não têm funcionado contra Kim Jong-un na Coreia do Norte e não desbancarão Maduro do poder.
Pelo contrário: a curto prazo, reforçam o discurso do inimigo externo, que cai perfeitamente na retórica chavista-madurista; a médio prazo, esses países acabam encontrando outro comprador de seus produtos – no caso venezuelano, China e Rússia estão a postos para ocupar, na América Latina, o vácuo a ser deixado pelos americanos. Mais: não apenas os governantes continuam no poder como a elite pouco sente o cheiro do gás lacrimogêneo das ruas.
O governo Trump foi estratégico: decidiu adotar sanções individuais contra autoridades venezuelanas que se envolveram na convocação da Assembleia Constituinte. Essas pessoas tiveram seu vistos cancelados, e os bancos americanos estão proibidos de fazer negócio com eles. Costuma funcionar quando aperta no bolso ou quando se tem a viagem – de férias ou em fuga – para a Flórida cancelados.
A Assembleia Constituinte que Maduro elegeu no domingo foi uma peça tosca de autoritarismo para solapar o parlamento com maioria oposicionista, eleito há dois anos. A vitória naquele momento da Mesa Democrática foi celebrada como o início do fim do chavismo-madurismo após 17 anos. Algo como uma primavera do lado de cá do hemisfério ocidental. Mas primaveras acabam.
Neste momento, encontrar o ponto de equilíbrio entre estrangular o regime de Maduro, sem punir a população – já vítima de uma inflação de 700% e sem liberdades políticas – é o principal desafio dos EUA, da comunidade internacional como um todo e do Mercosul em particular.