Rodrigo Lopes

Rodrigo Lopes

Formado em Jornalismo pela UFRGS, tem mestrado em Ciência da Comunicação pela Unisinos e especialização em Jornalismo Ambiental pelo International Institute for Journalism (Berlim), em Jornalismo Literário pela Academia Brasileira de Jornalismo Literário, e em Estudos Estratégicos Internacionais pela UFRGS. Tem dois livros publicados. Como enviado do Grupo RBS, realizou mais de 30 coberturas internacionais. Foi correspondente em Brasília e, atualmente, escreve sobre política nacional e internacional.

Forças Armadas

Exercício conjunto com tropas dos EUA na Amazônia divide militares

Prevista para novembro, operação contará com base temporária multinacional em Tabatinga. Setores veem interferência americana

Rodrigo Lopes

Enviar email

Depois de anos de afastamento, os exércitos dos Estados Unidos e do Brasil realizam uma série de ações que indicam uma reaproximação nas áreas de defesa e na luta contra o narcotráfico. A medida mais visível dessa intensificação das relações será uma operação conjunta entre tropas americanas e brasileiras em novembro na Amazônia, região sensível aos interesses nacionais e cuja presença estrangeira provoca discórdia até entre os próprios militares.

Como parte do exercício, será instalada, entre os dias 6 e 13 de novembro, uma base multinacional na Tríplice Fronteira, entre Tabatinga (Amazonas, Brasil), Letícia (Colômbia) e Santa Rosa (Peru), que abrigará munição, equipamento de disparos e de comunicação. A operação está em fase de planejamento, e não está definido o número de militares de EUA e Brasil que participarão do exercício, que envolverá ainda tropas de Peru e Colômbia.

A participação americana é uma resposta a um convite do Brasil, que testemunhou como observador um exercício semelhante da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) na Hungria, em 2015. No Leste Europeu, a base multinacional, que seria temporária, acabou se tornando permanente. O Brasil nega que o mesmo possa acontecer na Amazônia.

Questionado pela coluna, o Comando do Exército esclareceu que o exercício, denominado AmazonLog 2017, tem, entre outras metas, "aumentar a capacidade de pronta resposta multinacional, sobretudo nos campos da logística humanitária e apoio ao enfrentamento de ilícitos transnacionais". Leia-se, combate a drogas e entrada de armas ilegalmente. A guerrilha Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) está em processo de desarmamento, após décadas de guerra civil – a fronteira, que, por anos, foi usada como rota para transporte de drogas, poderia servir de esconderijo para o arsenal. Junto com a Tríplice Fronteira Sul, entre Foz do Iguaçu, Ciudad del Este (Paraguai) e Puerto Iguazú (Argentina), a região de Tabatinga preocupa há anos as autoridades brasileiras por ser entreposto do narcotráfico. No comunicado, o Exército explicou que, além de militares, participarão da manobra Polícia Federal, Receita Federal, Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), entre outros órgãos civis.

A presença de tropas americanas na Amazônia é polêmica, mexe com os brios dos nacionalistas e provoca revolta entre oficiais da reserva: "Convidar as forças armadas dos EUA para fazer exercícios conjuntos com nossas Forças Armadas, na Amazônia como crime de lesa-pátria. Ensinar o inimigo como nos combater na selva amazônica é alta traição", diz uma mensagem que circula entre militares.

Para Nelson Düring, especialista em assuntos estratégicos e editor do site Defesanet.com.br, visões como essa representam um retrocesso e atrapalham a inserção brasileira em assuntos internacionais.

– Até hoje, não descobri qual a razão de tanta restrição aos EUA por uma parte grande dos militares. Trata-se de uma interação com outras forças militares. Até recentemente não eram aceitos militares estrangeiros no Centro de Instrução de Guerra na Selva (CIGS). Agora, já tivemos americanos europeus e até chineses. Cabe ao Brasil preservar os seus segredos. Muito do que poderia ser mantido em sigilo antes é hoje devastado pelos satélites de observação – analisa Düring.

Leia mais:
Ação na Amazônia é ponta de lança de outras parcerias com americanos

GZH faz parte do The Trust Project
Saiba Mais
RBS BRAND STUDIO

Vitrola

00:30 - 02:00