Faltando exatamente dois meses para o primeiro turno da eleição presidencial francesa, uma pesquisa divulgada esta semana mostra o crescimento da candidatura de Marine Le Pen, que alcança 26% das intenções de voto, contra 19% do principal adversário, o ex-ministro da Economia Emannuel Macron. A líder da extrema-direita, filha de Jean-Marie Le Pen, deve causar dores de cabeça aos políticos de centro e de centro-esquerda franceses e aos defensores da União Europeia (UE), além de solavancos nos mercados.
Muito antes da vitória de Donald Trump do lado de cá do Atlântico, o continente europeu vive uma onda conservadora: a saída do Reino Unido da UE, capitaneada pelo primeira-ministra britânica, Theresa May, mostrou que, ao menos em tese, há vida fora do sonho da integração. Atentados em Paris, Nice, Bruxelas e Berlim conquistam, dia após dia, mais adeptos da ideia de reerguer as fronteiras nacionais, anulando o Espaço Schengen da livre-circulação. Partidos populistas têm crescido, como a Alternativa para a Alemanha (AfD), desbancando legendas de centro-esquerda, como o Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE).
Políticas isolacionistas e, em alguns casos, xenófobas, nos EUA reforçam discursos de Thereza no Reino Unido e de Le Pen na França. O último dos rompantes da líder da extrema-direita francesa foi ter desistido de encontrar o xeque Abdul Latif Derian, autoridade sunita do Líbano, na porta do gabinete. Isso porque lhe ofereceram o véu islâmico para a reunião. Le Pen é uma das principais defensoras da proibição da vestimenta em espaços públicos – o véu já não é permitido em escolas de ensino médio e serviço público na França.
Nesta quarta-feira, o centrista François Bayrou, líder do Movimento Democrático, fechou apoio a Macron, como “alternativa” a Le Pen. Não será suficiente. Ela deve vencer em 23 de abril, mas não levará no segundo turno, em 7 de maio, quando os perdedores do primeiro turno se juntarão contra o inimigo comum. Essa costuma ser a lógica histórica da política francesa. O problema é que, como o Brexit e Trump já mostraram, nem sempre a política tem seguido a lógica.