Dois pesos-pesados da política europeia vivem momentos opostos: de um lado, o ex-presidente Nicolas Sarkozy foi o grande derrotado das primárias internas da centro-direita francesa e não irá disputar a presidência pelo partido Os Republicanos, justamente quando o conservadorismo cresce, com o fracasso das políticas do presidente de centro-esquerda François Hollande, da onda de refugiados e do medo de novos atentados terroristas. Do outro lado da fronteira – e da gangorra –, Angela Merkel, a grande maquinista da locomotiva europeia, anunciou que irá concorrer a um novo mandato – se vencer, será o quarto, e, ao completá-lo, alcançará o recorde do ex-chanceler Helmut Kohl, que governou a Alemanha por 16 anos.
Eterno candidato, Sarkozy era favorito para unir o país contra a extrema-direita de Marine Le Pen. Temperamental, agressivo, midiático, lembrava seus melhores tempos da campanha vitoriosa de 2007. Afundou-se em escândalos e perdeu espaço para Alain Juppé, ex-herdeiro político de Jacques Chirac, de quem foi seu primeiro-ministro entre 1995 e 1997, e para François Fillon, ex-primeiro-ministro do próprio Sarkozy. Aos 61 anos, tem idade para voltar à política, mas, antes, os franceses precisam esquecer seus escândalos, entre os quais a acusação de que teria recebido dinheiro do ex-ditador líbio Muamar Kadafi para a campanha. Vai demorar, os franceses não esquecem tão rápido.
Merkel é um ano mais velha do que Sarkozy e reina sozinha desde 2005 na Alemanha. Entra na disputa com popularidade de 55%. Mãezona europeia, ao abrir as fronteiras para os refugiados chegou a cair nas pesquisas. A chanceler terá de enfrentar o crescimento da extrema-direita do partido Alternativa para a Alemanha (AfD), cuja plataforma contrária à imigração tem colecionado adeptos, mas ainda está longe de ameaçar gigantes como a União Democrata Cristã (CDU) e o Partido Social Democrata (SPD). A oposição não tem rosto claro. Depois do Brexit e de Donald Trump nos Estados Unidos, ela é um símbolo de estabilidade no turbulento mar das relações internacionais que se desenha no horizonte.