Os atentados no aeroporto e na estação do metrô de Bruxelas, na manhã desta terça-feira, acontecem quatro dias depois de um dos maiores feitos da polícia belga desde os ataques em Paris: a prisão de Salah Abdeslam. Abdeslam, que morava no centro de Molenbeek, conhecido como "ninho de terroristas", é peça-chave do planejamento dos atentados à casa de shows Bataclan e a outros pontos de Paris.
Estive na frente da casa do terrorista, em Molenbeek, em novembro, dias após os atentados. Um sobrado de poucos andares atraía a atenção da imprensa internacional. Seu nome ainda estava no interfone, ao lado da porta do prédio. A policia havia feito buscas no local, mas não encontrara Abdeslam. A caçada durou quatro meses, e terminou no dia 18.
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A Bélgica é na atualidade o maior entreposto do terrorismo que aflige a Europa. De Molenbeek saíram alguns dos principais extremistas deste século: entre eles, o que executou o líder anti-Talibã Ahmad Massoud dois dias antes do 11 de Setembro, os extremistas dos atentados de Madri, em 2004, e os mais recentes contra o Charlie Hebdo e o Bataclan. Todos foram arquitetados por trás dos pacatos prédios de Molenbeek.
A fama do local nasceu nos anos 1940, com a chegada de imigrantes italianos. Depois vieram os gregos e espanhóis, atraídos pelas promessas de trabalho nas indústrias da região. Em seguida, chegaram os árabes, que hoje são maioria, mais de 80%. O estigma de berço de terroristas surgiu em 1990, quando o xeque Bassam Ayachi, um francês salafita, abriu o Centro Islâmico Belga. À época, ele começou a cooptar jovens para a rede Al-Qaeda, de Osama bin Laden. Hoje é o Estado Islâmico que assedia os jovens do bairro.
A pobreza, a falta de perspectiva e o desemprego, que chegam a níveis bastante altos em Molenbeek, tornaram-se iscas para o jihadismo atrair jovens filhos de imigrantes, que veem em grupos extremistas uma causa a seguir.