Barack Obama aproveitou toda a tradição que recai sobre o discurso sobre o Estado da União, na noite desta terça-feira, para buscar moldar, em palavras, o esboço do legado que deixará após seus oito anos na Casa Branca. Começou o discurso, diante das duas casas do Congresso americano, tocando em um ponto nevrálgico da sociedade americana: o controle de armas. Foi menos aplaudido do que de costume, se é que se pode medir a temperatura desse discurso por aplausos, sempre frequentes e historicamente parte do ritual.
Obama fez um pronunciamento otimista. Abordou assuntos vitoriosos de sua política: Obamacare, a retomada das relações diplomáticas com Cuba ("Reconheçam que a Guerra Fria terminou", afirmou), o acordo nuclear com o Irã, a diversificação das fontes de energia - e menos dependência de petróleo. Disse que não estava preocupado em indicar prioridades para seu último ano de mandato, mas que estava olhando para o horizonte de cinco, 10 anos. Adepto do multilateralismo nas relações internacionais, postura que marca seus governos, Obama garantiu a defesa das diferenças étnicas ou religiosas.
Para agradar aos ouvidos republicanos, pronunciou frases fortes, com tom belicista – "Os EUA são a nação mais poderosa da Terra" – e pediu, ainda que de forma mais tímida do que se poderia imaginar, que o Congresso aprove o uso de tropas contra o Estado Islâmico.
A mensagem não deixa de ser um recado para nações como o Irã. O dia foi sobretudo tenso: pela manhã, um atentado atingiu o coração de Istambul. E terminou com a notícia da prisão de 10 marinheiros em duas embarcações pelo país no Golfo Pérsico. Obama não citou esses episódios.
Seu final remontou à campanha de 2008. No subtexto, esperança: "o país que colocou o homem na Lua, vai descobrir a cura do câncer". Obama também pediu diálogo e cooperação entre democratas e republicanos. Algo normalmente impossível. Muito menos em ano de eleição.