Crônica publicada em 10/08/1997
Um pai faz tanta falta até mesmo quando não faz falta. A relação que tive com meu pai não foi a melhor. Faz quase 20 anos que o perdi, mas sonho com ele todas as semanas.
Às vezes, sinto remorso de não estar podendo viajar em sua companhia pelos lugares que ele adoraria conhecer, é uma pena que agora que haveria a possibilidade de desfrutar mansamente a sua sabedoria, ele não esteja ao meu lado.
Quando vivemos juntos, os tempos eram tão atribulados, a luta dele e minha pela existência era tão dura que só tínhamos tempo para os choques, fomos deixando para mais adiante a harmonia.
Mas ele desapareceu e toda a alegria que por vezes tenho é acompanhada de um travo amargo de ele não compartilhá-la.
A figura do pai da gente se gruda em nós por toda a vida, o pai é a pele do nosso corpo e a luz da nossa alma. Eu quisera que ele vivesse para tentar me aliviar das minhas dores e vê-lo feliz nos meus contentamentos.
Ele foi tão importante para mim que tenho a perfeita noção de que sou exatamente a síntese dos defeitos e qualidades dele. Culpo-o quando erro e quando acerto atribuo a ele o mérito inteiramente.
Eu gostaria de vê-lo orgulhoso bisavô dos meus dois netos. E queria tê-lo perto de mim todos os dias para ver no que deu o seu filho e para me auxiliar no desembaraço das minhas encrencas.
Os pais deveriam morrer junto com seus filhos. Porque não há maior vazio na existência do que uns sobreviverem aos outros.
Quando li no meu programa de comportamento da rádio e da televisão o texto que a agrônoma Maria Alice C. Corrêa da Silva, residente em Santa Maria, me remeteu sobre seu marido e pai de seus filhos, não pude evitar as lágrimas: "Obrigado por tentares ser forte, quando o mundo parece estar ruindo. Obrigado pela compreensão, quando, muitas vezes, teu entendimento não encontra justificativa para as atitudes dos que estão à tua volta. Obrigado pelo sorriso de incentivo, pela palavra amiga, por acreditares em nós na hora em que estamos tentados a desistir. Pela tua vigilante presença e por tentares guiar nossos passos pelo caminho do amor. Por ajudares sempre, compartilhando conosco todos os momentos importantes de nossas vidas. Obrigado pelo teu silêncio, quando a dor te faz sofrer e não queres nos assustar, e teu grito se faz mudo. Quando teus gestos nos fazem sentir a presença de Deus. Quando reconheces teus erros e tudo fazes para corrigi-los, nos enchendo de orgulho, muitas vezes não manifestado. Obrigado por saberes esperar, entender que é preciso ter paciência para que se alcancem as metas desejadas e por acreditares e lutares por elas, criando em nós a esperança do amanhã. Por fim, obrigado por nos dar muito prazer e ter a capacidade de nos fazer sentir a grandeza do teu amor".
Todos os pais merecem essas palavras de animadora gratidão.
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