*Coluna publicada em 19/06/2001
Eu poderia ontem ter escrito a coluna assim,toda ela: Tite, Tite, Tite, Tite... Eu poderia ter escrito assim: Galvão, Galvão,Galvão, Galvão... Ou então Guerreiro, Guerreiro, Guerreiro...
Poderia ter escrito com o nome de qualquer jogador que participou da conquista, qualquer dirigente, funcionário do Grêmio ou torcedor.
Escrevi somente e inteiramente com o nome de Marinho, com sinceridade lhes digo, por um motivo: porque significava muito para mim, que escrevi duas colunas afirmando ser uma loucura terem afastado do Grêmio o melhor zagueiro do Brasil (foi exatamente assim que escrevi), o zagueiro que tinha sido grande figura do time em todos os Gre-Nais, que tinha sido uma das maiores figuras do Grêmio no ano passado, isso eu escrevi e falei no rádio e na TV enquanto Marinho estava afastado. E eu pedindo à direção do Grêmio que revisse o afastamento e a eliminação de Marinho. E a direção e o treinador do Grêmio tiveram a sensibilidade de rever a eliminação de Marinho. E aí deu no que deu: Marinho, grande figura em todos os jogos da Copa do Brasil deste ano e autor também do gol de abertura do escore no jogo decisivo.
Acho que assim sintetizo o significado e o impulso da louca coluna de ontem só com o nome de Marinho.
Porque pela correspondência dos leitores que recebi ontem, em sua esmagadora maioria, foi-me mandado dizer que entendiam a coluna escrita daquele jeito.
É que o leitor sabe como ninguém que a coluna pertence ao colunista,é retrato do que se passa no momento na alma do colunista.
E o que se passava na minha alma era um orgulho cintilante por ter colaborado decisivamente para a salvação do Marinho no Grêmio e conseqüente consagração do Marinho no Grêmio.
Por isso os leitores entenderam a coluna. E entre centenas de mensagens que recebi pela Internet, as que podem simbolizar a maioria delas foram as de dois leitores, que transcrevo agora.
O leitor Roberto P. Scweitzer, de Desterro, Santa Catarina, escreveu assim: "Parabéns, parabéns,parabéns, parabéns, parabéns..., pela coluna e pelo título".
O leitor Carlos Sant’Anna, de Chapecó, mandou dizer: "Sant’Ana,você é um louco. Brilhante!"
Foi incrível que até nas ruas de Mato Grosso do Sul saíram a desfilar multidões de torcedores do Grêmio depois da conquista.
E as comemorações foram esfuziantes pelos gremistas do Paraná e de Santa Catarina. E nos municípios gaúchos houve um delírio da massa tricolor, que saiu para as ruas, enfrentando o frio.Em todos os municípios gaúchos!
Mas o que foi a passeata e festa em Santa Rosa e em Santa Cruz,especialmente! O que foi aquilo que vi com emoção de lágrimas na televisão! O que foi aquilo!
E em Porto Alegre, os jovens incendiando de vibração a Capital, recebendo os jogadores e a delegação gremista depois da meia noite, 5 mil pessoas no Olímpico às três da madrugada! Com aquele frio!
Que torcida! Como eu fui feliz em ter escolhido ser gremista aos cinco anos de idade! Foi a única coisa acertada que fiz em minha vida, o resto que fiz deu tudo errado em minha vida!
É uma simples questão de escolha que a gente faz na infância a paixão que a gente vai dedicar a um clube. E como eu fui feliz na minha escolha!
Se eu tivesse escolhido errado ,imaginem a fossa em que estaria hoje! O suicídio seria um dever.
Mas pelo menos isso, só isso, eu escolhi certo. No resto eu fui um imbecil.
Porque existem milhões de pessoas que não escolheram o Grêmio mas suas vidas deram certo em outros aspectos, escolheram outros clubes mas compensam essa má escolha com outros sucessos na vida.
Comigo não, eu coleciono tantos fracassos fora do futebol, uma verdadeira ruína, que se não tivesse escolhido ser gremista, com os outros insucessos todos, minha vida seria uma sucata, um entulho.
Mas escolhi felizmente ser gremista. E só isto me salvou da catástrofe geral!
Pelo menos isto: sou gremista. Ou melhor, só isto: sou gremista. E precisa mais?
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