Pedi a quatro intelectuais femininas que trabalham na Redação de Zero Hora que me respondessem a uma pergunta em sete linhas, que eu transcreveria em nova coluna minha. Perguntei às quatro, que estavam nas cercanias do fumódromo, o seguinte: que tipo de homem você idealiza? Duas das intelectuais (redatoras, colunistas e editoras) saltaram logo com suas respostas: "Nós duas não podemos responder, porque somos casadas". Mas como? Quer dizer, então, que mulher casada não pode ter opinião? Ou pior ainda: se as minhas duas colegas não podem responder para minha coluna sobre que tipo de homem idealizam, então fica claro que esse tipo de homem ideal não é seu marido: eis que, fosse seu marido esse tipo de homem ideal, elas simplesmente o citariam como o cara exemplar.
Temo pelo desastre da minha pesquisa junto às minhas quatro colegas. Acontece que é uma bobagem que uma mulher casada não possa descrever o seu tipo masculino ideal. Só porque é casada? Um marido pode muito bem citar qual o seu tipo ideal de mulher, mesmo que esse tipo não caiba em sua mulher. Uma coisa são os nossos ícones femininos sensuais, outra coisa é a mulher que temos lá em casa. Uma coisa são as nossas deusas ou deuses, outra coisa completamente diferente são as mulheres e maridos que temos para consumo doméstico.
Vamos ver se minha próxima pergunta poderá ser respondida pelas minhas colegas: se seu marido permitisse, qual homem você levaria para morar com ele e com você na sua casa? A recusa das minhas duas colegas em responder à minha pergunta tem um conteúdo revelador: as intelectuais não são ainda de todo livres. Elas são livres para pensar, mas não são livres para manifestar seu pensamento. Para se manifestar, precisam dos carimbos de seus maridos.
Por isso é que criei a figura de Pablo. Paulo ama (ou gosta) a mulher de casa. Pablo é quem ama (ou gosta) as outras mulheres. Nós – e isso é uma lição para as minhas duas colegas que se sentiram proibidas de responder à minha enquete – temos que ter a consciência de que não somos uma só pessoa: cada um de nós é duas pessoas. Uma das pessoas que está dentro de nós é a certinha. Mas existe dentro de nós outra pessoa: a transgressora. Nenhum de nós pode viver uma vida inteira sem transgredir, sem passar dos tolos limites. O meu limite é a razão.
Crônica publicada em 03/04/2011